
Esperar que o poder público seja responsável por tudo na sociedade é bobagem. Os cidadãos e suas representações, como ONGs, universidades, institutos e tantos outros órgãos, têm sim de atuar e dividir com a União, os Estados e os municípios a construção de um país melhor.
Mas isso não quer dizer que o poder público tem de se ausentar e não atuar em áreas onde a sociedade civil organizada já atua. É o que está acontecendo com as entidades que recebem animais silvestres apreendidos do tráfico, resgatados de áreas urbanas ou com ferimentos ocasionados em atropelamentos e queimadas, por exemplo. Veja o caso do hospital veterinário do Centro Universitário de Rio Preto (Unirp), em São José do Rio Preto (SP):
“O trabalho do hospital veterinário da Unirp, faculdade de São José do Rio Preto (SP), está ameaçado por causa das despesas altas no tratamento de animais silvestres resgatados. Todos os animais que ficam feridos em atropelamentos ou em queimadas são resgatados pela Polícia Ambiental, Ibama e bombeiros, e levados para o hospital veterinário. É uma parceria que ajuda na recuperação de centenas de animais. Mas as despesas com os tratamentos estão altas demais e, segundo a faculdade, nenhum órgão público ajuda a pagar a conta.
(…) Mas quando estão machucados, são trazidos para o hospital da Unirp. Atualmente, o hospital trata 40 animais. Eles são tratados até se recuperar, mas, pelo menos metade deles fica no local, e as despesas, por conta do hospital. E aí é que começa o problema.
Isso porque mesmo já saudáveis os animais não tem para onde ir. Algumas espécies não são aceitas em bosques, nem zoológicos. Hoje o hospital está com mais de 20 animais e a despesa mensal chega a R$ 40 mil só com medicamentos e alimentação. Fora isso, ainda tem os salários de dois funcionários, um médico veterinário e um biólogo. “Esses animais vindos da polícia, dos bombeiros, do Ibama e da Secretaria do Meio Ambiente, ninguém paga essa conta, quem arca com as despesa de cirurgia, exames, alimentação e medicação é o hospital”, afirma a médica veterinária do hospital Tatiana Morosini Cruvinel.” – texto da matéria “Sem local para destinação, hospital arca com despesas de animais”, publicada em 12 de fevereiro de 2015 pelo portal G1
Vale destacar: o hospital atende cerca de 400 animais por ano.
Enquanto o poder público contar com essas instituições, ele não vai investir adequadamente na construção de centros de tiragem e recuperação de animais silvestres (Cetas e Cras). Os gastos são altos, a gestão é complicada e o trabalho é extremamente especializado. União, Estados e municípios sabem dessa necessidade, mas preferem ignorar o problema que têm deixado para um grupo de idealistas que trabalham sério pela conservação da biodiversidade brasileira.
Lamentável o nível de desinteresse dos governantes.