
Análise de Dimas Marques
Editor-chefe
dimasmarques@faunanews.com.br
Ontem, o Fauna News comentou a escandalosa morte de 600 animais no Centro de Triagem de Animais Silvestres do Ibama em Seropédica (RJ) nos últimos quatro meses. A falta de tratadores, após o fim do contrato com uma empresa prestadora de serviços em julho, é apontada como a causa do problema. O telejornal RJ TV, da Rede Globo, foi o responsável por revelar o caso .
Após a veiculação da reportagem na televisão, o superintendente do Ibama no Rio de Janeiro, o contra-almirante da reserva da Marinha Alexandre Dias da Cruz, simplesmente tirou da gaveta e assinou o contrato que já estaria pronto com uma nova prestadora de serviço. A informação foi revelada na noite de ontem pelo RJ TV e pelo site O Eco:
“Na noite de segunda-feira (22), a 2ª edição do RJTV trouxe uma denúncia que causou indignação nas redes: a morte de mais de 600 animais no Centro de Triagem de Animais Silvestres do Estado do Rio de Janeiro (Cetas-RJ) em quatro meses. O motivo: o abandono e a falta de tratadores por cerca de um mês. A reportagem e a grande repercussão negativa tiveram efeitos imediatos. Às 21:15 da noite, cerca de 2 horas depois da matéria ir ao ar, o superintendente do Ibama no Rio de Janeiro, o contra-almirante da Marinha, Alexandre Dias da Cruz, assinou a contratação da empresa terceirizada que irá restabelecer o serviço de tratadores no Cetas. A rapidez na resposta evidenciaria o que disseram fontes ouvidas por ((o))eco, que o contrato já estava pronto na mesa do superintendente há algum tempo, que simplesmente não assinava.
“A gente teve notícias de que o processo estava pronto, ele só não assinou porque não queria. O fato dele ter assinado duas horas depois da reportagem mostra que isso é verdade, que ele já estava com o processo pronto e aí assinou quando explodiu [a denúncia]”, conta uma fonte que preferiu ter sua identidade preservada para evitar retaliações.
A nova empresa contratada é a Cemax Administração e Serviços, que ficará responsável pela contratação de 10 funcionários terceirizados para ocupar os cargos de tratadores divididos em 5 postos de trabalho, quatro diurnos e um noturno. O começo dos trabalhos deve ser imediato, ainda esta semana. Além de cuidar da alimentação dos bichos, estes profissionais ficam responsáveis pela limpeza das jaulas e espaços de cativeiro. O pregão havia sido publicado no Diário Oficial da União no dia 21 de janeiro, com abertura de propostas prevista para o dia 2 de fevereiro. A demora de 20 dias até a assinatura, de fato, do contrato não foi justificada pelo Ibama.
Ainda segundo fontes ouvidas por ((o))eco, o superintendente estaria “contrariado” pela pressão pública que sofreu e, apesar de ter assinado o contrato, já estaria articulando “retaliações”, como a troca integral da equipe de tratadores terceirizados, alguns com mais de 15 anos de atuação e experiência no Cetas-RJ. Apesar da eventual troca de empresa a cada ciclo de contrato, as pessoas que integram a equipe de terceirizados tendem a se manter nos cargos. Tanto porque as posições exigem experiência prévia, quanto pela escassez de cuidadores de animais silvestres no mercado. “Ele [o superintendente] disse que vai trocar tratadores, vigilantes, secretária… todo mundo. É retaliação”, afirma a fonte, que preferiu não se identificar.” – texto da matéria “Pressionado, superintendente do Ibama-RJ assina contratação de tratadores de animais”, publicada em 23 de fevereiro de 2020 por O Eco

Um inquérito já foi aberto pela Polícia Federal (PF). O caso também está sendo acompanhado pelo Ministério Público Federal. Ontem, três tratadores estiveram prestando declarações na sede da PF. Hoje é dia do superintendente.
O Cetas do Ibama em Seropédica é o único do estado do Rio de Janeiro, Há anos, o centro e seus funcionários sofrem com descaso, o que gerou problemas de infraestrutura nas instalações do local, falta de funcionários e queda na qualidade do atendimento prestado aos animais.
Os Cetas e os centros de reabilitação de animais silvestres (Cras) são estruturas destinadas a receber, tratar e dar destinação adequada a animais silvestres vítimas do tráfico de fauna, de atropelamentos, de queimaduras em redes de distribuição de eletricidades e de todo tipo de evento que lhes cause algum dano físico. Esses centros são fundamentais para o funcionamento de todo o sistema de atendimento à fauna, inclusive pela devolução dos reabilitados à vida livre.