
Análise de Dimas Marques
Editor-chefe
dimasmarques@faunanews.com.br
Escrevo sobre tráfico de animais desde 2001. Já relatei histórias surpreendentes de bandidos que, para não serem presos, mataram animais silvestres das formas mais cruéis e inusitadas.
Não é incomum que, durante operações de fiscalização em feiras de rua, conhecidas como feiras de rolo, os traficantes acabem matando os pássaros que estão vendendo e os jogando em qualquer canto da rua.
Me lembro também de um caso envolvendo Valdivino Honório de Jesus, traficante de animais preso 16 vezes e que foi condenado a 12 anos de prisão por lavagem de dinheiro (não por crime contra a fauna). Na noite de 15 de maio de 2012, ele bateu o carro em um barranco na BR-116, na região metropolitana de Curitiba (PR). Com o veículo cheio de aves ilegais, algumas acabaram lançadas para os asfalto no impacto. A Polícia Rodoviária Federal foi até o local e quando o bandido viu a viatura, não teve dúvida: começou a estrangular alguns animais e a jogá-los no rio sob a ponte onde estava.
Valdivino transportava 40 aves, sendo que 33 morreram. Sete delas ainda foram socorridas com vida: uma ararajuba, três araras, um corrupião, um trinca-ferro e um azulão.
O desprezo com a vida é característico de quem trafica fauna e de quem compra de traficantes e cria animais sequestrados de seus habitat. Ontem, li uma notícia no portal G1 de uma atitude simplesmente absurda:
“Um homem de 28 anos, suspeito de crime ambiental e maus-tratos a animais, mastigou e engoliu um pássaro da espécie papa-capim, na tentativa de não ser preso nesta quinta-feira (28), em João Pessoa, conforme informou a Polícia Militar.
Uma equipe da PM foi até a casa do suspeito, localizada no bairro Valentina, após denúncias anônimas de maus-tratos aos pássaros, que ele criava de forma irregular.
O jovem ainda tentou impedir a entrada dos policiais, que informaram que ele não poderia criar os animais.
Quando a equipe policial conseguiu entrar na residência, foi surpreendida com a ação do suspeito.
“Quebrou a gaiola, colocou a mão e pegou o passarinho. Só fez empurrar [o animal na boca], mastigou e engoliu na frente da gente”, relatou o sargento Amaro.
De acordo com o sargento, o homem engoliu o pássaro para “se livrar da prisão em flagrante”. Mas, como tinha outras quatro aves em casa, sendo duas da espécie papa-capim, um galo de campina e um sanhaçu, foi detido por crime ambiental e de maus-tratos.
Ainda conforme a polícia, o suspeito respondia em liberdade pelo crime de tráfico de drogas. Por isso, deve voltar para uma unidade penitenciária.
Os outros pássaros que estavam na casa dele foram levados para a Central de Polícia da capital paraibana, assim como quatro porções de drogas, duas balanças de precisão e um triturador de maconha.” – texto da matéria “Homem engole pássaro para tentar não ser preso por maus-tratos a animais na PB, diz PM”, publicada em 28 de janeiro de 2021 pelo portal G1
O bandido, além de cruel, não é muito inteligente. Afinal, além da ave que engoliu, havia outras quatro igualmente ilegais. O que ele pretendia fazer: comer todas para se livrar do problema?
Problema que, na verdade, era o menor ali naquela circunstância, já que o sujeito ainda guardava porções de entorpecentes e material para tráfico de drogas. Tenho certeza de que ele sabe que entre ser surpreendido com drogas ou com animais silvestres ilegais, a encrenca legal é muito maior na primeira circunstância.
Só fico imaginando o que policiais ambientais e fiscais de órgãos ambientais não presenciam no seu cotidiano de combate ao tráfico de fauna e que não ficamos sabendo. E tudo isso é financiado e mantido por “cidadãos de bem” que compram desses bandidos pássaros, papagaios, iguanas, pequenos macacos e todo tipo de bicho para criar em casa.
Cúmplices.