Novos dinossauros no Brasil: Tietasaura derbyiana e Tiamat valdecii

Recentemente, a paleontologia brasileira foi agraciada com duas novas espécies de dinossauros: a Tietasaura derbyiana e a Tiamat valdecii. Algumas coincidências são notáveis, como ambos serem animais herbívoros, começarem seus nomes com T e serem espécies encontradas em diferentes bacias sedimentares datadas do Cretáceo Inferior (entre 145 milhões a 100,5 milhões de anos atrás) do nordeste brasileiro. Porém, os pontos em comum param por ai, uma vez que essas espécies não são aparentadas evolutivamente.

Essas descobertas são de grande importância para a Ciência, pois fornecem novas informações sobre a diversidade dos dinossauros no Brasil durante o período Cretáceo. Assim, vamos detalhar melhor cada uma delas.

Tietasaura derbyiana: o primeiro ornitópode do Brasil

A Tietasaura derbyiana, cujo nome significa “lagarto da Tieta”, é um dinossauro ornitópode (mesmo grupo onde estão outros dinossauros famosos, como o Iguanodon). Essa espécie foi identificada a partir de um fêmur incompleto encontrado na formação Marfim, no estado da Bahia. O espécime, catalogado como NHM-PV R.3424, foi descoberto em 1906 durante uma expedição do Museu de História Natural de Londres nas cercanias de Salvador.

Originalmente, o osso foi confundido com pertencente à um crocodiliforme e assim permaneceu até novas investigações, mais de cem anos depois! Análises recentes corrigiram essa identificação. O nome Tietasaura homenageia a personagem título da obra Tieta do Agreste, famoso romance de Jorge Amado (um renomado autor baiano) e faz referência ao valor inestimável do espécime, sendo o primeiro ornitísquio nomeado no Brasil. O nome específico, derbyiana, presta homenagem ao geólogo nascido nos Estados Unidos e naturalizado brasileiro, Orville Adalbert Derby, em reconhecimento às suas contribuições para a paleontologia brasileira.

Em análises filogenéticas, a Tietasaura foi classificada como um membro do grupo Elasmaria, relacionado a um outro dinossauro de porte igualmente pequeno, o Notohypsilophodon. A pesquisa traz novas visões sobre o período pré-barremiano, de cerca de 130 milhões de anos atrás, e a Tietasaura, apesar de incompleta, é a primeira prova nominal da existência de uma espécie pertencente ao grupo dos ornitísquios, uma ordem de dinossauros herbívoros. Antes, só existiam pegadas, ou seja, registros indiretos da passagem desses animais em nosso país.

O artigo, publicado na revista científica Historical Biology, de circulação internacional, além de apresentar a Tietasaura derbyiana, descreve e identifica vários outros elementos ósseos de outros tipos de dinossauros e relata a descoberta dos primeiros ossos de dinossauros coletados na América do Sul.

Tiamat valdecii: um titanossauro do Ceará

A outra grande descoberta é Tiamat valdecii, um titanossauro da formação Açu, no Ceará. O espécime, composto por nove vértebras caudais incompletas, foi descoberto no vale do Jaguaribe, próximo ao município de Quixeré, e está depositado na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

O nome Tiamat é uma referência à deusa dracônica da mitologia mesopotâmica, geralmente retratada como a “mãe” primordial de todos os demais seres míticos. Assim, o nome simboliza a posição consideravelmente mais primitiva dessa nova espécie na árvore evolutiva dos titanossauros – como se fosse um titanossauro igualmente primordial. Já o nome específico, valdecii, homenageia o pesquisador Valdeci dos Santos Júnior, descobridor dos primeiros elementos ósseos na região.

As análises filogenéticas indicam que Tiamat é um titanossauro basal, relacionado ao Andesaurus, uma espécie argentina. Interessantemente, Tiamat representa o primeiro dinossauro a ser nomeado da bacia Potiguar do Brasil, embora tenham sido encontrados restos indeterminados de outros dinossauros na mesma região.

Essas descobertas não apenas ampliam nosso conhecimento sobre a diversidade dos dinossauros na América do Sul, mas também destacam a importância das pesquisas paleontológicas no Brasil. Tanto a Tietasaura derbyiana quanto a Tiamat valdecii, sendo espécies tão particulares, são testemunhos da rica história evolutiva dos dinossauros e reforçam o valor científico dos fósseis brasileiros.

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