
Por Alexandre Pereira
Ecólogo, analista ambiental do Ibama no Mato Grosso do Sul e brigadista do Prevfogo (Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais) do mesmo órgão. Especialista em incêndios florestais e manejo do fogo. Instrutor nos cursos de formação de brigadas de prevenção e combate a incêndios florestais
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Temperaturas que ultrapassam os 40°C, com sensação térmica que chega aos 50°C. Ventos quentes, constantes e que passam os 30Km/h. Umidade relativa do ar que fica abaixo dos 10%. Esse é o cenário ideal para o avanço inescrupuloso dos incêndios florestais na maior planície alagável do planeta, o Pantanal.
Mais de três milhões de hectares já foram consumidos pelas chamas no ano de 2020. É o maior evento dessa natureza para o bioma, que já perdeu mais de 20% da sua área para o fogo.

Em um evento catastrófico como esse, a fauna e a flora são diretamente impactadas. Frentes de fogo avançam consumindo tudo o que encontra pela frente. Queimam, carbonizam, sufocam qualquer forma de vida que não consiga ter agilidade suficiente para fugir, se entocar ou nadar para longe das labaredas.
Mesmo aqueles animais mais ágeis, velozes, capazes de nadar ou subir em árvores, como as onças-pintadas, são poupados.
Imagine você, um felino como a onça-pintada, que possui todas as características acima, vem sofrendo em demasia com estes incêndios. Agora, imagine a quantidade de animais que são muito mais lentos, não possuem a capacidade de nadar e não sobem em árvores. Pois então, esse é o cenário que encontramos com centenas de milhares de animais das mais diferentes espécies caídos sobre o solo recoberto de cinzas, fuligem e carvão.
Somos centenas de pessoas que estão trabalhando para conter o avanço das chamas. Brigadistas do Ibama/Prevfogo e do Instituto Chico Mende de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), além de militares do Corpo de Bombeiros, do Exército e da Marinha.

Esses combatentes, além de enfrentarem o calor do ambiente, o calor do fogo, a fumaça e o difícil deslocamento entre pântanos e montanhas no Pantanal (sim, o Pantanal tem montanhas na Serra do Amolar), são obrigados a se depararem com cenas chocantes e tristes de animais mortos e até mesmo agonizando nos seus últimos suspiros de vida.
São situações difíceis que abalam os brigadistas, que precisam focar toda a sua atenção no trabalho extremamente perigoso, estressante e cansativo para, justamente, impedir que outras cenas iguais às que ele acabou de presenciar continuem a acontecer.
Os sentimentos de todos nós, brigadistas, quando perguntados sobre o encontro de animais mortos pelo incêndio, são de consternação total e da vontade de ter chegado momentos antes para ter evitado aquelas e outras tantas mortes.
Nossa luta é incessante, incansável; é pela vida.
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