
Análise de Dimas Marques
Editor-chefe
dimasmarques@faunanews.com.br
As consequências das ações de caçadores vão muito além da dor causada no animal morto e da ausência dele no ecossistema onde deveria cumprir funções ecológicas. Veja o mal causado pela caça, há cerca de 5 anos, de uma macaca-aranha-de-cara-vermelha (Ateles paniscus) que estava com sua filhote na floresta Amazônica no interior do Pará.
“Um macaco-aranha foi resgatado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Sema) na terça-feira (27) após ser encontrado vivendo com uma família em uma casa em Alenquer, no oeste do Pará. O animal de aproximadamente 5 anos deverá ser transferido para Santarém nos próximos dias.
De acordo com informações da Sema, o animal é uma fêmea de aproximadamente 5 anos. A macaca, que tem o nome de Anita, vivia com uma família, como animal doméstico.

A Sema chegou até o cativeiro após denúncias anônimas. “Anita” vivia em uma espécie de gaiola e dormia em uma rede.
A família morava em uma área rural da cidade, conhecida como Maicuru, quando resgataram o animal ainda filhote. A mãe de Anita foi morta em ações de caça predatória e a família acabou “adotando” o filhote.” – texto da matéria “Macaco-aranha de aproximadamente 5 anos é resgatado pela Sema em Alenquer, no PA”, publicada em 28 de abril de 2021 pelo portal G1
A intenção da família que “adotou” a macaca parece ter sido boa.
‘“Esse animal foi encontrado na comunidade Maicurú, a 100km da área urbana de Alenquer. Caçadores mataram a mãe e um ‘senhor’ a resgatou, vendo que ela estava sendo maltratada, acabou comprando por R$ 50 para cuidar. No início ele cuidava na zona rural, depois ele a levou para zona urbana e cuidava muito bem do animal”, disse o chefe de fiscalizações da Sema de Alenquer, Adilson Bentes.’ – trecho da matéria “Após resgate em Alenquer, macaca-aranha passará por processo de adaptação à natureza em zoológico”, publicada em 3 de maio pelo portal G1

Após ser transportada por balsa de Alenquer para Santarém, a macaca foi levada segunda-feira (3 de maio) para o zoológico da Universidade da Amazônia (ZooUnama). Ela está em um recinto com outras três fêmeas da mesma espécie. A intenção é verificar se o animal tem condições para retornar à vida livre e, se possível, reabilitá-la.
A caça causou sofrimento ao animal morto (mãe da macaca-aranha-de-cara-vermelha, que deixou de cumprir seu papel ecológico (disseminar sementes, ser presa de outros animais, etc.) e contribuir com a perpetuação de sua espécie. A filhote órfã, retirada da natureza, passa a enfrentar uma vida em cativeiro doméstico, com cerceamento de seus comportamentos e hábitos naturais, além de também não cumprir suas funções na natureza.
O pode público começa a intervir no caso. A ação da caça realizada há cinco anos obriga o poder público a gastar o erário na fiscalização, resgate, transporte e, a partir de agora, na tentativa de reabilitar a macaca.
Quanta dor, sofrimento, problemas ambientais e gastos públicos não poderiam ser evitados se a macaca mãe não tivesse sido morta. E repare que esta reflexão não abordou a motivação da caça…