
Análise de Dimas Marques
Editor-chefe
dimasmarques@faunanews.com.br
A recente polêmica envolvendo, de um lado, o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles e, do outro, o superintendente da Polícia Federal no Amazonas, delegado Alexandre Saraiva, é mais um capítulo da trágica novela escrita pelo presidente da República Jair Bolsonaro. Na trama tecida pelo chefe do Executivo federal, o conflito base se desenvolve na tentativa de impor um projeto político que não inclui a conservação ambiental e os atores sociais que protagonizam essa bandeira. O antigo dilema entre desenvolvimento econômico e proteção da natureza, que não é exclusividade da recente gestão do Planalto, foi e está sendo acirrado ao extremo.
Esse acirramento busca o rompimento, com as questões ambientais sendo suplantadas. A “boiada” anunciada em reunião ministerial tornou-se símbolo dessa política de governo.
A polêmica envolvendo uma gigantesca apreensão da madeira em dezembro de 2020 teve seu estopim aceso em entrevista dada por Salles a O Estado de S. Paulo (publicada em 3 de abril), em que o ministro declarou haver irregularidade na ação da Polícia Federal.
A Polícia Federal do Amazonas, ao apreender 131 mil m³ de madeira na divisa do Pará com o Amazonas, afirma ter razões técnicas para não liberar a carga. Há suspeita de crime, de fraude. E o delegado Saraiva mostrou ter claro conhecimento sobre o embate ideológico, político e econômico a que está exposto. Tanto que, em matéria da Folha de S. Paulo publicada em 4 de abril, declarou: “Na Polícia Federal não vai passar boiada”.
Para Bolsonaro e Salles, a apreensão histórica de madeira não serve nem como peça de marketing para vender a imagem de que estaria combatendo o desmatamento na Amazônia. O atual governo não faz questão disso. É transparente ao escancarar seu desprezo pela conservação ambiental.
Só para lembrar, boa parte das mais de 43 mil toras de madeira – capazes de encher 6.243 caminhões e avaliadas em R$ 55 milhões -, foi retirada de áreas de preservação permanente e de reservas legais, compondo o habitat de uma infinidade de animais. A transformação e a perda de habitat é a principal causa da extinção de espécies da fauna em todo o mundo.
Animais silvestres não morrem somente pelas mãos de caçadores e traficantes de fauna ou atingidos por veículos nas rodovias. Eles perecem também quando as motosserras são ligadas.