Novas espécies estão sendo descobertas. Destruição do habitat é grande ameaça para esses animais.
Por Yasmim Nepomuceno
Especial para o Fauna News
As cobras são animais que despertam muito medo no imaginário popular e também personagens retratados como cruéis em filmes e outras produções. Contudo, a herpetologia, ramo da zoologia que se dedica ao estudo dos répteis e anfíbios, continua a ampliar pesquisas e a divulgação científica para reduzir a aversão às serpentes.
Segundo levantamento publicado em 2018 na revista Herpetologia Brasileira, o Brasil é o terceiro país com maior número de répteis no mundo, onde já foram registradas 405 espécies de cobras. Entre 2016 e 2018, foram 17 novas espécies identificadas. A bióloga goiana Daniella França contribuiu para essa estatística ao descobrir, durante sua pesquisa de doutorado, uma nova espécie de serpente do cerrado.
Em seu doutorado, Daniella realizou a revisão taxonômica do Gênero Apostolepis e analisou coleções em museus da América do Sul. No material do Centro de Estudos e Pesquisas Biológicas da PUC-Goiás, ela encontrou registros de uma cobra que estava identificada com nome da espécie de outra que não tinha as mesmas características. Depois de análises, a bióloga concluiu se tratar de uma espécie nova, que foi batizada como Apostolepis adhara em homenagem ao nome da estrela (Adhara) que representa o estado do Tocantins na bandeira brasileira.
Durante a pesquisa, Daniella só encontrou registros de dois indivíduos Apostolepis adhara e destacou duas hipóteses para isso: a espécie pode estar em processo de extinção ou ser rara. “Ela vive no município de São Salvador (Tocantins), uma área condenada por exploração agropecuária e por uma hidrelétrica. Um dos riscos para a espécie é a destruição do habitat”, ressalta a bióloga. A hipótese para a existência dos dois exemplares por ela encontrados em centros de pesquisa é que eles foram coletados após tentar fugir do alagamento do reservatório da Usina Hidrelétrica São Salvador.
A descoberta da nova espécie foi publicada em revista científica no final do ano passado.
“Só conseguimos proteger aquilo que conhecemos. A importância de descobrir novas espécies é de estimar a riqueza e a biodiversidade para proteger a área onde essas espécies vivem. Quanto mais espécies têm em um local, mais ele é prioritário para a conservação”, enfatizou. Esse movimento de descoberta de novas espécies está associado ao aumento de novos cientistas e de expedições para lugares pouco antes explorados pela dificuldade de acesso.
Daniella salienta a importância dos investimentos em medidas para conservaçã das serpentes e desmistificar os medos. Os primeiros passos são a educação ambiental e a divulgação científica. “Quando as pessoas começam a conhecer, percebem que não precisam ter medo. No máximo respeito e receio, mas não o medo que leva a pessoa a matar qualquer cobra que encontra. As cobras fazem parte da cadeia alimentar e do equilíbrio da natureza”, finaliza.