Por Daniela de Almeida
Veterinária e agente da Polícia Federal da Delegacia de Meio Ambiente e Patrimônio Histórico do Rio de Janeiro
nalinhadefrente@faunanews.com.br
Desde os primórdios da humanidade, o homem percebeu a necessidade de utilizar os demais animais e a de com eles conviver.
Inicialmente, como a produção das colheitas não eram suficientes, o homem passou a se alimentar de animais e também a utilizá-los no auxílio para a caça.
Posteriormente, algumas espécies passaram a servir apenas de companhia, como são os casos, principalmente, dos cães e dos gatos. Nessa condição, como é facilmente constatável, o homem não conseguiu arcar com a responsabilidade de cuidar adequadamente desses animais domesticados, resultando no abandono de boa parte deles.
Não bastasse apenas a domesticação de cães e gatos, observa-se também, nos tempos atuais, a domesticação de animais silvestres. Aves em gaiolas, cobras e lagartos em viveiros, macacos dentro de casa, enfim, todos em ambientes restritos. Bem diferente de seus habitat naturais.
Vemos crianças muito felizes ao serem presenteadas com esses animais. Mas será que os animais também ficam felizes? Essa questão deveria ser a primeira a ser feita no momento em que alguém decide obter um animal silvestre.
Nenhum animal silvestre é feliz em um lar onde não possa expressar seu comportamento natural. Animais precisam conviver com os da sua espécie, ter espaço, procurar seu próprio alimento, reproduzir-se. Não importa para ele se está numa casa em que recebe água, comida e cuidados veterinários. Para o animal, é uma prisão em que estará entediado, solitário e reprimido.
A companhia humana não substitui a companhia dos da sua própria espécie.
Para piorar a situação, grande parte tem expectativa de vida alta. Papagaios, por exemplo, podem viver 60 anos. Já as tartarugas, 500 anos. Em muitos casos, é comum o tutor falecer antes, causando transtornos na vida do animal e na família em que ele está inserido. É frequente o abandono.
Outra situação muito habitual é aquela em que a pessoa acha que o animal silvestre terá um comportamento igual ao de um cãozinho ou de um gatinho. Acontece que o animal silvestre não interage da mesma forma com o homem e, muitas vezes, frustra o comprador. Os Cetas (centros de triagem de animais silvestres) estão repletos de animais silvestres oriundos de lares em que a família não se adaptou ao comportamento do animal e fez uma entrega voluntária.
Ao longo dos meus anos de trabalho na área ambiental, constatei também que muitos animais fogem das residências, inclusive os adquiridos de forma legal, nascidos em cativeiro. Isso me faz questionar a tese de que animais nascidos em cativeiro perdem o instinto selvagem. Como eles têm a tendência de sair da casa em que estão e de procurar a natureza, será mesmo que perdem seu instinto natural?
A sociedade precisa entender que o animal não pertence à pessoa, não é propriedade de alguém. Os animais são da natureza e de lá nunca deveriam ser retirados nem forçados a modificar seu comportamento.