Por Paulo Henrique Demarchi
Formado em Administração e pós-graduado em Gestão Ambiental. É instrutor de Fiscalização Ambiental da Polícia Rodoviária Federal e membro do Grupo de Enfrentamento aos Crimes Ambientais da corporação
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Com o advento da pandemia envolvendo o coronavírus e a divulgação de que provavelmente esse vírus surgiu do consumo de animais silvestres por chineses na província de Wuhan, a população ficou assustada. Passamos a nos preocupar com as doenças que podemos contrair da fauna silvestre, seja através do consumo ou de simples contato.
As zoonoses que animais selvagens podem transmitir aos humanos são inúmeras e muitas podem até ser desconhecidas. O coronavírus trouxe esse debate à sociedade, que agora tem mais um motivo para se posicionar contra o tráfico de animais selvagem e seu consumo indiscriminado.
Recentemente, verificamos policiais e agentes ambientais que enfrentam o tráfico de animais silvestres usando equipamentos de proteção individual (EPIs) que dificilmente eram usados no trabalho rotineiro, como luvas, máscaras, álcool em gel e até ferramentas para minimizar o contato.
Também é possível verificar que pessoas estão se afastando de animais silvestres vendidos em feiras clandestinas e denúncias estão surgindo devido à preocupação com vírus, bactérias e verminoses que esses animais podem ter e, portanto, contaminar pessoas que tiverem contato com eles.
Essa triste pandemia, que deverá contaminar milhões de pessoas e matar dezenas de milhares ao redor do mundo, servirá para alertar o planeta sobre a necessidade de manter animais selvagens em seu habitat e não os utilizar como pets ou alimento.
Para os agentes de repressão aos crimes ambientais, essa questão impõe mais uma responsabilidade ao seu trabalho, que passa a ser desenvolvido em universo mais complexo a ser analisado. E para os governos, ficou claro que o combate aos crimes ambientais é uma questão muito mais ampla que apenas proteção de florestas e animais. Combater o tráfico de fauna é salvar a vida dos animais e dos humanos que correm grandes riscos de contaminação.
Acredito que as ONGs e os órgãos públicos que lutam a interminável batalha para proteger animais silvestres deveriam investir na divulgação do problema da disseminação de zoonoses. Esse trabalho deve tentar atingir o público que até hoje não foi alcançado pelo discurso humanitário da proteção da vida animal.