Por Vitor Calandrini
Primeiro-tenente da PM Ambiental de São Paulo, onde atua como chefe do Setor de Monitoramento do Comando de Policiamento Ambiental. É mestrando no Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP)
nalinhadefrente@faunanews.com.br
Muitas pessoas perguntam durante minhas aulas e palestras quantos animais existem irregularmente em cativeiro no estado de São Paulo. Obviamente, sempre respondo não ser possível saber essa informação, pois ela está efetivamente atrelada ao que é irregular, oculto.
Entretanto, resolvi me debruçar em publicações científicas sobre o tema para ver se seria possível estimar esse número. Obtive um resultado estatisticamente provável, além de assustador, e vou compartilhar com você o passo a passo:
1°) Para iniciar o cálculo, utilizei a informação da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres, a Renctas (ONG mais citada em trabalhos científicos sobre tráfico de animais silvestres), que divulga serem retirados da natureza aproximadamente 38 milhões de animais/ano no Brasil e que desse total somente 10% chegam ao destino final, ou seja, 3,8 milhões de animais/ano.
2°) Tendo como referência o tempo de vida médio do canário-da-terra (Sicalis flaveola), que figura na lista dos cinco animais mais apreendidos em diversos Estados (SP, MG, BA, RS, SC), é de 10 anos, podemos estimar, considerando animais de vida mais longa como papagaios e tartarugas e outros com tempo de vida menor, que temos uma população flutuante de animais silvestres em cativeiro de 38 milhões no Brasil (3,8 milhões por ano X 10 anos).
3°) Segundo o IBGE, o Brasil chegou aos 210 milhões de habitantes e o estado de São Paulo a 45,9 milhões no ano de 2019.
4°) Ainda considerando os dados do IBGE, a média de moradores por domicílio no estado de São Paulo é de 3,84 pessoas por residência e, considerando a população, temos aproximadamente 15 milhões de residências em território paulista.
5°) Considerando a proporção de animais retirados da natureza anualmente e a população paulista em relação à brasileira, já descontado o que é apreendido anualmente, chegamos ao expressivo número de “UM ANIMAL PARA CADA DUAS RESIDÊNCIAS”.
Para chegar a esse resultado, é preciso fazer o seguinte cálculo:
N – Número de residência no estado de SP com animais silvestres ilegais
A – Número total de animais subtraídos da natureza nos últimos 10 anos e que chegaram nas residências paulistas (8,3 milhões)
B – Número de animais apreendidos nos últimos 10 anos no estado de São Paulo (30 mil por ano X 10 anos = 300 mil)
C – Domicílios do estado de São Paulo (15 milhões)
N = (A-B)/C
N = (8.300.000 – 300.000)/15.000.000
N = 0.53, ou seja, 53% dos domicílios do estado de São Paulo abrigam animais silvestres ilegais.
O pior de tudo foi ouvir que denominaram o cálculo de “Fórmula Calandrini” para estimativa de domicílios com animais irregulares. Realmente, não sei se isso é positivo ou não…
É óbvio que essa é apenas uma estimativa matemática com base em informações disponíveis e amplamente divulgadas e que podemos ter uma única residência com 100 animais ou uma maior concentração em determinadas áreas. Mas o que me assustou foi saber que se os dados do Renctas estiverem corretos e que se você leitor não possui um animal silvestre irregular, estatisticamente seu vizinho pode ter.