Por Roberto Cabral Borges
Biólogo, mestre em Ecologia e analista e agente ambiental do Ibama
nalinhadefrente@faunanews.com.br
Populações em áreas ermas, populações tradicionais, populações ribeirinhas, seringueiros… Qualquer que seja o grupo ou a denominação, observam-se setores governamentais, ONGs e pesquisadores defendendo a continuidade da caça, dita de subsistência, para assegurar a alimentação. O discurso é hipócrita e se desvia do problema básico: a segurança alimentar não é responsabilidade da biodiversidade; é de cada pessoa e do Estado brasileiro. Mas, certamente, não é dos animais silvestres.
É muito fácil argumentar que essas populações continuem caçando e, nesta defesa, se vangloriar de defender os interesses das pessoas nessas condições. Mas esta é uma linha argumentativa hipócrita. Ela defende que a vulnerabilidade alimentar e social perdure disfarçada de preocupação social. Não se discute ou se resolve a raiz do problema: o que levaria, no século 21, a manter pessoas dependentes da caça para sobreviver?
Enquanto a discussão não tratar do problema real e continuar imputando à fauna a solução de problemas sociais, a situação tende a não se resolver. Ao contrário, se agravará. Afinal, a caça está eliminando os animais e, em breve, a população continuará em vulnerabilidade social e espécies terão sido extintas.
Planejamento familiar, acesso a escolas, linha de crédito para produção familiar, auxílio tecnológico para pequenas criações (galinhas e marrecos, por exemplo), hortas e pomares. Essas questões, entre outras, deveriam estar na pauta da discussão e não a caça de subsistência. Por trás da argumentação da caça está a manutenção da condição de vulnerabilidade e incerteza alimentar.
A quem interessa esse discurso e não a real solução do problema?
Com certeza não à biodiversidade, cujas matas estão se tornando desertos verdes e, também não àqueles que gostariam de ter a certeza de alimentação à mesa.
Os animais não votam e as pessoas em condições de vulnerabilidade são menos propensas a analisar criticamente políticas públicas. Espero que, doravante, quando alguém defender a caça de subsistência, você agora analise o problema de forma mais ampla e se questione: ele ainda não percebeu ou a ele interessa manter as pessoas vulneráveis?