
Cara leitora, amigo leitor,
o tenente-coronel Davi de Souza Silva, da PM Ambiental de São Paulo, que colaborava com o Fauna News desde o início da coluna NA LINHA DE FRENTE, não mais escreverá para o site. Ele assumiu a Superintendência do Ibama em São Paulo e está se dedicando totalmente às suas novas atribuiçõe e responsabilidades.
O Fauna News agradece imensamente a participação do tentente-coronel Davi em nossa equipe de especialistas. Nossas páginas estão sempre abertas para você. Muito obrigado!
A partir de hoje, contamos com a participação do primeiro-tentente Vitor Calandrini, também da PM Ambiental paulista. Bem-vindo ao Fauna News!
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Por Vitor Calandrini
Primeiro-tenente da PM Ambiental de São Paulo, onde atua como chefe do Setor de Monitoramento do Comando de Policiamento Ambiental. É mestrando no Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP)
nalinhadefrente@faunanews.com.br
Em meu primeiro ato como convidado a escrever no Fauna News, gostaria de agradecer a oportunidade de compartilhar conhecimentos, experiências, notícias, algumas histórias cômicas e outras, infelizmente, trágicas relacionadas à fauna com os amigos leitores. No momento, me sinto recoberto de extrema responsabilidade em substituir o tenente-coronel Davi de Souza Silva, com que tiver a honra de servir no Policiamento Ambiental do estado de São Paulo durante toda minha carreira. Sendo assim, agradeço a ele imensamente todo o conhecimento adquirido e lhe desejo sorte nessa nova missão de proteção ao meio ambiente.
Contando um pouco sobre o tenente Calandrini, posso dizer que minha carreira profissional desde a formatura na Academia de Polícia Militar do Barro Branco foi engajada na proteção ambiental, haja vista que, ao concluir o curso de formação, escolhi a Polícia Ambiental como destino e é onde sirvo desde então. Já fui comandante de pelotão no 1° Batalhão de Polícia Ambiental e, atualmente, trabalho no Setor de Monitoramento do Comando de Policiamento Ambiental, onde conseguimos planejar operações, controlar o atendimento de denúncias, realizar a proteção ambiental no estado de São Paulo.
Cabe esclarecer que, no estado de São Paulo, a Polícia Militar Ambiental apreende anualmente pouco mais de 30 mil animais silvestres advindos do tráfico ilegal. Infelizmente, muitos deles já são encontrados sem vida devido às formas de transporte e de armazenamento, pois o traficante pensa em uma forma de não ser pego no ato criminoso e isso o leva, muitas vezes, a esconder o animal para o transporte. Podemos imaginar então os infinitos locais em que esse transporte pode ser feito: caixas de leite, canos de PVC, embaixo de bancos de veículos, dentro de eletrodomésticos, etc.
Teremos muito tempo para contar “causos” de flagrantes que ocorreram dessa forma, mas para eu adotar uma sequência lógica em minha escrita, gostaria de adiantar algumas provocações que sempre gosto de fazer em meus discursos. São constatações que fiz durante esses quase 10 anos de fiscalização ambiental.
Uma pessoa que, por exemplo, decida se tornar traficante de armas ou até mesmo de drogas, ao receber uma visita em sua residência e estando todo o material ilícito com que trabalha em cima da mesa da sala., o que ela faz? Esconde o material antes de receber a visita ou recebe a pessoa sem temer qualquer tipo de represália? Obviamente que esconderá o ilícito.
Mas, por que com o animal silvestre é diferente? Por que pessoas se orgulham de expor, muitas vezes em redes sociais, animais em cativeiro que deveriam viver em vida livre e isso é aceito culturalmente? Será que algo está errado em nossa sociedade?
Alguns defenderão que a vida na residência é muito mais segura para a fauna silvestre, pois o animal não precisa competir por alimento, nem buscar abrigo, e que isso aumentaria o bem-estar dele. Mas isso seria uma realidade ou apenas estaríamos humanizando um animal silvestre e refletindo nele um sentimento humano que não está entre suas características naturais?
Um exemplo simples: um papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) quer mesmo cantar o hino do time de futebol de coração do seu dono e revelar seu amor a um esporte que não é de sua inteligibilidade ou está apenas agindo institivamente para obter alimento e proteção?
Várias são as autocriticas que devemos fazer aos Homo sapiens e às suas características de dominação e domesticação. Teremos muitas oportunidade de nos estender nas discussões e nas alternativas para manutenção de nossa biodiversidade. O que devemos entender é que o problema é atual e real, que estamos vivendo uma época de grandes extinções de espécies somente comparável aos períodos glaciais. Inclusive alguns já falam que estamos colocando fim a uma era geológica, a que será chamada futuramente pelos novos habitantes de “Período Antropocêntrico”.