Por Roberto Cabral Borges
Biólogo, mestre em Ecologia e Analista e Agente Ambiental do Ibama
nalinhadefrente@faunanews.com.br
O mundo não é isento de interesses e, certamente, quando a coroa britânica proibiu os navios negreiros, houve, no Brasil, um levante contra. Argumentos econômicos certamente não faltaram. Afinal, a economia da cana e do café, entre outras, pautava-se no trabalho escravo. Mas a escravidão não é moralmente aceitável e a ética e a justiça, não sem muita luta e sofrimento, prevaleceram.
Realmente, a Amazônia todo ano queima. Mas isso não é comum.
Comum é algo normal.
Se algo ruim acontece, sempre temos de ter cautela em não o considerar corriqueiro ou aceitável, pois tais palavras culminam por justificar sua continuidade.
As queimadas são um reflexo do desmatamento, pois são usadas para limpeza do pasto ou queima da floresta após ser explorada pelos madeireiros.
Se nos preocupamos com a soberania nacional, então sejamos pragmáticos: nenhum país hoje entra em guerra com outro sem uma boa e aceitável desculpa. Então, pensando em soberania econômica ou de território, sendo a Amazônia nossa, temos o dever de defendê-la. Só assim eliminamos qualquer justificativa de intervenção, guerra ou sanção.
Quanto às sanções econômicas e os interesses da França, Noruega, agricultores americanos ou quem for, também não podemos ser inocentes como nação ou em política externa. Podemos gritar soberania o quanto quisermos, pois, na prática, vale o jogo econômico internacional. Nesse sentido, as sanções podem vir de governos ou empresas e, por mais indignados que fiquemos, elas não são ilícitas – apenas ação e reação.
Estaremos errados por não fazer o que é correto ou, ainda errados, por sermos ingênuos ante as regras do jogo e o interesse internacional pelo meio ambiente.
Assim, podemos ficar gritando que é perseguição, interesse econômico e simplesmente não acreditar que existam pessoas genuinamente preocupadas com o meio ambiente e acusar a todos de melancias – verde por fora e vermelhos por dentro.
Ou fiscalizar a Amazônia e ser duro com fazendeiros que desmatam ilegalmente, com madeireiros que usam madeira de unidades de conservação e de terras indígenas, com grileiros e outros criminosos ambientais.
Independente de as taxas subirem ou diminuírem, o desmatamento aumenta a cada ano. Trocamos a mata atlântica por cana e café e estamos trocando a Amazônia por gado e soja. Se os produtos nacionais quiserem manter todos os mercados abertos, terão de mostrar que isto não é uma troca, que a legislação será respeitada e que a produção brasileira não está vinculada ao crime ambiental.
Cresci assistindo o Mundo Animal. Aprendi a me preocupar com os elefantes na África, os ursos americanos, os tigres da Ásia e as baleias do oceano.
O Japão caça comercialmente as baleias. Elefantes, rinocerontes e leões sãos mortos na África. Os tigres estão desaparecendo da Ásia e existe caça aos ursos nos Estados Unidos da América, assim como caça a filhotes de foca no Canadá. Eu discordo de cada uma dessas situações e atos de caça. Mas isso que não significa que não respeite a soberania dos países envolvidos.
A grande questão é que sou brasileiro. Uma bandeira do Brasil tremula ao ventilador sobre minha estação de trabalho. Mas também sou terráqueo e, assim como eu, outras pessoas também se importam com o planeta.