
Por Paulo Henrique Demarchi
Formado em Administração e pós-graduado em Gestão Ambiental. É instrutor de de Fiscalização Ambiental da Polícia Rodoviária Federal e membro do Grupo de Enfrentamento aos Crimes Ambientais da corporação
nalinhadefrente@faunanews.com.br
Quase que diariamente a imprensa noticia flagrantes de tráfico de fauna silvestre, crime comum em todos os Estados brasileiros. Imagens chocantes com animais mortos e transportes precários é algo que incomoda qualquer ser humano.
Porém, o que nunca aparece nessas notícias é o desespero dos servidores que participaram dessas honrosas ocorrências. Servidores da Polícia Rodoviária Federal, Ibama, Polícia Federal, ICMBio, polícias Civil e Militar e de demais órgãos públicos que normalmente se deparam com esse tipo de crime sempre estão despreparados, pois não possuem suporte mínimo para atender a situação de forma adequada.
O servidor com certeza também não tem a capacitação técnica necessária para manter os animais vivos ou minimizar o sofrimento dos bichos que sempre estão em situações degradantes. A estrutura para encaminhamento, alimentação e readaptação dos sobreviventes à natureza é praticamente inexistente no Brasil; país com vários biomas, dimensões continentais e uma biodiversidade única no planeta, que precisaria de uma rede gigante e mega especializada para atender a demanda existente.
Sim, eu como policial rodoviário federal participei de dezenas de apreensões de animais silvestres em vários Estados do país, mas posso me considerar como um profissional diferenciado na fiscalização ambiental, pois, além da experiência na área, sou instrutor da PRF em Fiscalização Ambiental, membro do GECAM (Grupo de Enfrentamento aos Crimes Ambientais) e possuo contatos diretos com os principais profissionais, ONGs e autoridades do ramo. E mesmo assim, em todas as ocorrências, mesmo nas operações, onde já sabíamos que haveria prisão de traficantes de animais, estávamos despreparados e a situação foi estressante e desesperadora.
Podemos dizer que ser policial no Brasil é frustrante, pois a sensação de enxugar gelo é enorme. As leis são inadequadas e o sistema lento e burocrático trabalha contra a Justiça. Porém, quando falamos em crimes ambientais, mais precisamente no tráfico de animais silvestres, essa frustação é muito maior: a legislação utilizada para os traficantes de fauna é totalmente inadequada, prova disso é a quantidade de traficantes que se mantém na atividade criminosa por longo período e são detidos anualmente já que a ação do Estado não retira o criminoso da sociedade e nem da sua atividade ilícita.
A angustia de se trabalhar combatendo tráfico de fauna não é causada apenas pela legislação permissiva. O que mais incomoda o agente é o número de óbitos de animais que existe e que cresce a cada minuto. Aí percebemos que quando o estado fica de posse desses animais, eles não estão protegidos e sim com seus destinos severamente comprometidos.
Gostaria de aproveitar o espaço e parabenizar todos os agentes ambientais e policiais que combatem o tráfico de animais silvestres, pois são servidores que lutam contra a frustração diária e acreditam que podem mudar a cruel realidade que assola os animais silvestres brasileiros.