
Por Dimas Marques
Editor-chefe
dimasmarques@faunanews.com.br
Em uma ação da fiscalização da Agência Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco (CPRH) e da Companhia Independente de Policiamento do Meio Ambiente (Cipoma), 54 aves e 85 caranguejos guaiamuns foram apreendidos na feira do Cordeiro, em Recife. Dez pessoas foram detidas e liberadas após o registro da ocorrência. A operação aconteceu às 5h de domingo (29 de junho). O local é um dos mais tradicionais pontos do comércio ilegal de fauna de Pernambuco.
Antes da operação, policiais do serviço reservado da Polícia Militar mapearam o local e indicaram quem eram os comerciantes de animais no local. Entre os animais que estavam sendo traficados havia canários-da-terra, papa-capins, caboclos, bigodes, azulões, sabiás-golada, craúnas, galos-de-campina e um papagaio-verdadeiro. Também foram apreendidos três carros, onde havia gaiolas com aves.
De acordo com a CPRH, os caranguejos foram apreendidos por terem carapaça com menos de sete centímetros (mínimo exigido) e pela grande quantidade de fêmeas encontradas. Eles seriam soltos na Área de Proteção Ambiental (APA) de Santa Cruz, em Itamaracá, na Região Metropolitana do Recife. As aves foram levadas para o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) Tangará, onde receberam atendimento.
Feiras de rolo
Muito tem se falado sobre o tráfico de fauna na internet. Recentemente, comunidades no Facebook e grupos de WhatsApp têm sido formados para o encontro entre comerciantes ilegais e interessados em comprar pássaros, papagaios, pequenos primatas e répteis.
Esse novo palco de atuação do tráfico, que ganhou a preferência dos bandidos por evitar uma exposição na rua, dificultar a apreensão dos animais e facilitar o anonimato, cresceu, mas não substituiu as feiras de rua. Nas chamadas “feiras de rolo”, que geralmente acontecem nos fins de semana e onde encontra-se de tudo um pouco (legal e ilegal), ainda se encontram muitos animais silvestres sendo traficados.
Cordeiro
feira do Cordeiro é considerada como um dos principais pontos de venda ilegal de animais silvestres da Região Metropolitana do Recife.
Entre agosto de 2010 e abril de 2011, o biólogo Rodrigo Regueira frequentou 10 feiras da Região Metropolitana da capital pernambucana conhecidas pelo tráfico de fauna. Com uma pequena caneta que escondia uma diminuta câmera de vídeo, ele fingiu ser comprador e realizou 28 visitas a esses centros de comércio popular fazendo registros para seu trabalho de conclusão do curso de Ciências Biológicas, da Universidade Federal de Pernambuco.
Dentre as 10 feiras visitadas (Peixinhos, em Olinda; Madalena, Cordeiro, Casa Amarela, e Linha do Tiro, no Recife; Cavaleiro e Prazeres, em Jaboatão dos Guararapes; Paratibe, em Paulista; Abreu e Lima; e Cabo de Santo Agostinho), a do Cordeiro se destacou. Ela herdou boa parte dos traficantes da feira do Madalena, situada no bairro vizinho e que sofreu intensa ação de fiscalização, perdendo força. Situada ao lado do Mercado Público do Cordeiro, no bairro de mesmo nome, ela é uma feira voltada para o comércio de animais e de apetrechos para criação dos bichos (gaiolas, bebedouros, comedouros, rações, sementes), funcionando aos domingos a partir das 5h.
“É a feira com maior número de vendedores de silvestres. Eram mais de 30 em cada visita que fiz. Também tem o maior número total de espécies à venda, 42, e de indivíduos comercializados”, afirma Regueira, que esteve no local três vezes e contabilizou 553 animais sendo traficados.
Nas feiras da Região Metropolitana de Recife, Regueira encontrou 55 espécies de aves, sendo que duas encontram-se ameaçadas de extinção (Tangara fastuosa ou pintor-verdadeiro e Sporagra yarrellii ou pintassilgo), quatro tipos de aves híbridas e uma espécie de quelônio (Geochelone carbonária, o jabuti-piranga). No total, foram registrados 2.130 animais, sendo que 87% das espécies e 99% dos indivíduos eram da ordem Passeriforme, os conhecidos passarinhos que atraem pelo canto e plumagem colorida. O biólogo também constatou que 82% dos bichos apresentavam sinais de estresse. Não foi registrado o comércio de fauna silvestre nas feiras da Casa Amarela e do Madalena, o que não quer dizer que não aconteça.
“Projeções baseadas no número observado de indivíduos à venda indicam que até 52 mil animais podem ser comercializados anualmente nas oito feiras. Considerando os valores mínimos, médios e máximos obtidos, projeta-se que o comércio ilegal de animais silvestres movimente, por ano nessas feiras, entre R$ 636.840 e R$ 1.071.638”, afirma Regueira. E tudo isso apenas na Região Metropolitana de Recife.
Essa realidade não é exclusividade da Região Metropolitana do Recife. É assim em todo o Nordeste e em várias outras regiões do Brasil.