
Análise de Dimas Marques
Editor-chefe
dimasmarques@faunanews.com.br
Não é para matar a fome. Não é para defender a roça ou a plantação. Não é para defender o animal de criação de um ataque. Alegações comuns essas.
É para se divertir. Se divertir matando. Sadicamente.
Não há outra explicação.
Sábado, 15 de maio, no interior do Ceará:
“A Polícia Militar do Ceará apreendeu, na tarde deste sábado (15), várias armas, aves silvestres e material para caça ilegal na localidade de Caracará, em Sobral, a 245 km de Fortaleza. Segundo a polícia, foram apreendidos três espingardas, sendo duas com lunetas; um medidor de distância laser e outras materiais usados para caça, além de aves da fauna silvestre.
A polícia afirmou que toda a apreensão ocorreu durante fiscalização nas localidades de Oiticica e Carcará, nas proximidades da Serra do Barriga, local onde ocorre de reprodução de avoantes. Os policiais militares ambientais avistaram suspeitos dentro de um carro, momento em que, ao abordarem os homens, encontram várias aves abatidas e material de caça.
Os três homens, juntamente com todo o material, foram apresentados na Delegacia Regional de Sobral, onde foi instaurado um termo circunstanciado de ocorrência (TCO) com base no artigo 29 da Lei de Crimes Ambientais.” – texto da matéria “Armas aves silvestres e material para caça ilegal são apreendidas pela polícia no Ceará”, publicada em 16 de maio de 2021 pelo portal G1

Ontem, 16 de maio, no interior de São Paulo:
“Quatro homens foram autuados pela Polícia Ambiental de Barra Bonita (SP) por caça de animais silvestres com uso de cães na tarde deste domingo (16), em Bariri.

Segundo a polícia, os caçadores foram surpreendidos no Bairro Pedregulho durante a prática ilegal e possuíam facas, lanças, rádios e uma besta, ferramenta usada para lançar flechas através de gatilho.
Todos foram levados para a Central de Polícia Judiciária (CPJ) de Jaú. Foram elaborados quatro autos de infração ambiental por caça de espécie da fauna silvestre sem a devida autorização de autoridade competente.” – trecho da matéria “Homens são multados por caça de animais silvestres com uso de cães em Bariri”, publicada em 16 de maio de 2021 pelo portal G1
Apesar da distância entre os casos, as histórias são praticamente iguais: gente com armas caras que matam animais silvestres por prazer.
Igual também são os desfechos de ambos os casos: os sete caçadores (três do Ceará e quatro de São Paulo) foram soltos. Caçar sem autorização no Brasil é um crime legalmente classificado como de “menor potencial ofensivo”, que não culmina em prisão. Quando caçador fica preso é pelo fato de portar armamento sem autorização. Nunca por matar. As multas aplicadas também não têm caráter punitivo, pois raramente são pagas e o poder público não as cobra.
O país não tem a menor ideia de quantos animais silvestres são mortos anualmente por caçadores ilegais. Sequer uma pesquisa com base em registros policiais existe para que se tenha algum tipo de parâmetro.
Enquanto isso, pelo menos sete projetos de lei tramitam na Câmara dos Deputados com o objetivo de facilitar ou legalizar as caças comercial e esportiva no país.
Em maio de 2019, foi divulgado o resultado de uma pesquisa encomendada pela ONG WWF-Brasil ao Ibope constata que 93% dos entrevistados são contra a autorização da caça no país. E essa não foi a primeira pesquisa realizada sobre o tema. O próprio governo brasileiro, por meio do Ibama, encomendou uma em 2003. E o resultado foi que 90,8% dos brasileiros já eram contra a caça no país.