Mais botos-vermelhos e tucuxis podem morrer no lago Tefé (AM)

A morte de 141 botos-vermelhos (Inia geoffrensis) e tucuxis (Sotalia fluviatilis) no lago Tefé, no Amazonas, em setembro, escancarou o quanto as alterações climáticas promovidas pelo homem podem afetar outras espécies. E, de acordo com a bióloga e pesquisadora do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Miriam Marmontel, que há 30 anos estuda esses animais na região, é possível que mais uma onde de mortandade desses animais venha a ocorrer ainda este mês. A declaração foi dada à jornalista Paulina Chamorro, no podcast Vozes do Planeta.

A tragédia começou a ser registrada em 23 de setembro, um sábado, quando os pesquisadores foram alertados por ribeirinhos que botos-vermelhos estavam aparecendo mortos nas margens ou boiando no lago. Nesse dia, foram encontrados 19 animais sem vida. A maioria fêmeas e filhotes.

O pico de mortes aconteceu na quinta-feira, 28 de setembro, quando outros 70 animais foram encontrados. E o problema não estava restrito aos botos-vermelhos, pois tucuxis também estavam morrendo.

Vale lembrar que botos-vermelhos e tucuxis são cetáceos ameaçados de extinção, já muito impactados pela construção de barragens para hidrelétricas, poluição, mercúrio de garimpo, caça e tantos outros problemas. Agora, foi a vez da emergência climática mostrar-se inclemente.

Dias antes das mortes, a água do lago Tefé – que está com volume bastante baixo – chegou a 39º C, temperatura muito acima do normal. Os pesquisadores consideram ser possível que a água quente tenha contribuído para as mortes de botos e tucuxis.

Outro fator que está sendo considerado é a possibilidade de os animais terem sido intoxicados. Uma alga, que nunca fora vista no lago, apareceu, o que levanta a suspeita de que ela pode ter liberado algum tipo de biotoxina. Botos com alterações comportamentais foram vistos nesses dias.

Amostras de material retirado dos botos e tucuxis foram coletadas, bem como água e algas. Tudo será analisado para identificar a causa das mortes.

Enquanto isso, Miriam Marmontel destacou que o pico da estiagem na região deve ocorrer esta semana e uma nova onde de mortes pode acontecer. Cientistas e profissionais que trabalham com fauna de diversas instituições do poder público, de ONGS e universidades estão em Tefé tentando entender o que aconteceu e até preparando uma possível retirada de animais do lago.

O que todos têm certeza é que a alteração climática promovida por nós, seres humanos, é a responsável pelas mortes dos já tão ameaçados botos-vermelhos e tucuxis.