Análise de Dimas Marques
Editor-chefe
dimasmarques@faunanews.com.br
Não bastasse incentivar a captura e a venda ilegais de espécimes da fauna silvestre por traficantes, quem compra esses animais também é responsável por uma infinidade de fugas e abandonos.
Essas pessoas, sem informações sobre as necessidades básicas de dada espécie, acabam por criar os bichos de forma inadequada, permitindo que, muitas vezes, eles escapem. Essa falta de orientação também faz com que os compradores não saibam da longevidade de algumas espécies e do trabalho que dá criar esses bichos. O resultado é frustração e, não raro, o abandono do animal em parques, praças e áreas verdes.
Situações como essas também acontecem, ainda que em menor quantidade, com animais adquiridos em criadouros comerciais legalizados.
Seja caso de fuga ou de abandono, o animal silvestre vai sofrer. Ele terá que tentar se adaptar a um ambiente desconhecido, em que não sabe onde buscar alimento, água ou abrigo de predadores. Dependendo do tempo em que viveu preso, seu corpo pode não estar mais apto à vida livre.
É a irresponsabilidade humana gerando mais sofrimento ao animal. Veja o caso do jabuti abaixo:
“Uma jabota, fêmea do jabuti, foi submetida a uma complexa cirurgia no estômago de onde foram retiradas 320 pedras. O procedimento foi realizado nesta quarta-feira (17) no Hospital Veterinário de Uberaba (HVU), e o bicho, apelidado de Pérola, está bem e segue sob observação por, pelo menos, 60 dias.
Mas a recuperação total, que depende da cicatrização da carapaça, pode levar até um ano. A previsão é quem em dois meses ela seja transferida para o Centro de Triagem de Animais Silvestres de Patos de Minas.
O animal adulto foi resgatado na rua pelo Corpo de Bombeiros no domingo (14) à noite, no Bairro Residencial Marajó I. Segundo os militares, um pedestre avistou a jabota e ligou para o 193. Após o resgate ela foi encaminhada ao HVU. A suspeita do veterinário responsável pelo hospital é que ela tenha fugido de alguma casa, já que é comum a criação desse animal no interior de Minas.
No hospital, após o atendimento, ela não quis comer nenhum alimento o que levou à suspeita dos profissionais de algum problema no aparelho digestivo. Por meio de uma radiografia foram detectadas as pedras no estômago do animal.
A cirurgia foi considerada complexa e levou quatro horas, devido à dificuldade para abrir a carapaça, que é muito dura. O procedimento foi realizado por cinco médicos-veterinários, sendo dois anestesistas e três cirurgiões. Foram extraídas mais de três centenas de pedras, entre grandes e pequenas.
O gerente clínico do HVU, Cláudio Yudi, reforçou a necessidade de uma conscientização sobre posse responsável e lembrou, inclusive, que a criação de animais silvestres sem o devido registro é ilegal.
“Existe cachorro de rua, gato de rua e agora um jabuti de rua. Então, os jabutis também estão sofrendo com maus tratos. Ela possivelmente fugiu, estava perdida e passou fome, por isso comeu as pedras que encontrou no caminho”
Uma cirurgia complexa, como esta realizada na jabota, pode custar até R$ 3 mil, segundo Yudi. Mas uma parceria entre o HU, a Polícia Militar de Meio Ambiente e o Ministério Público de Minas Gerais possibilita a realização desses procedimentos, que trazem mais qualidade de vida aos animais silvestres resgatados na cidade e região.” – texto da matéria “Jabuti com 320 pedras no estômago é operada em Uberaba; suspeita é que ela as engoliu por fome”, publicada em 18 de fevereiro de 2021 pelo portal G1
Animais silvestres que escapam ou fogem também podem ser responsáveis por transmitir doenças para outros silvestres, para a fauna doméstica e humanos. Há também o risco de competição com a fauna nativa de uma área e se tornarem uma espécie invasora problema, caso se adaptem e se reproduzam no novo habitat.