Nascido em São Paulo (SP), formado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e fotógrafo de vida selvagem desde 2017. Ministrou durante dois anos o curso de Fotografia de Vida Selvagem para Iniciantes através de um projeto de extensão do Ministério da Educação. Tem experiência com pesquisas na área de ornitologia, ecologia e comportamento animal, além de divulgação científica.
Olá, tudo bem? Para quem estava sentindo falta de um dos principais figurões da fauna brasileira aqui na série, chegou a hora dele: o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla)!
Também chamado de jurumi (origem tupi) ou de tamanduá-açu, o tamanduá-bandeira é a maior das quatro espécies existentes de tamanduá (sendo as outras o tamanduá-mirim, tamanduaí e tamanduá-do-norte), podendo atingir mais de dois metros de comprimento e pesar cerca de 40 quilos. Pertencente à ordem Pilosa (a mesma dos bichos-preguiça), ele ocorre em grande parte da América Latina e pode ser encontrado desde Honduras até o nordeste da Argentina.
Entre as principais características desse mamífero estão sua cabeça fina e alongada com uma língua de até 60 centímetros (adaptadas à dieta que consiste exclusivamente em formigas e cupins), grandes garras nas patas anteriores e, claro, sua enorme cauda peluda que inspirou seu nome popular. A coloração da pelagem é composta principalmente por diferentes tons de marrom, com destaque para a faixa preta característica localizada na região dos ombros (os “pulsos” dianteiros também possuem bandas pretas).
O tamanduá-bandeira está classificado como “vulnerável” na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), com tendência de suas populações diminuírem ao longo dos anos (dados avaliados pela última vez em 2013, então é bem provável que sua situação atual já esteja, infelizmente, um pouco pior). Entre as principais ameaças que ele enfrenta, é possível destacar a caça, as colisões com veículos nas rodovias, os incêndios e a perda/fragmentação de hábitat. Pelo lado positivo, profissionais de organizações como o Instituto de Conservação de Animais Silvestres (Icas) e o Instituto Tamanduá se empenham diariamente para combater esses problemas e promover a conservação dessa espécie.
No Brasil, o tamanduá-bandeira pode ser encontrado em quase todos os biomas nacionais – a exceção é o Pampa. Ele está distribuído na maioria dos os Estados do país, estando ausente apenas no Rio de Janeiro e no Espírito Santo (onde foi considerado regionalmente extinto).
Entre os biomas em que o tamanduá habita, acredito que os formados por florestas mais densas (como a Floresta Amazônica e a Mata Atlântica) sejam os mais complicados para fotografá-lo, considerando que nessas regiões seu volume populacional é bem menor e a observação pode ser dificultada por conta do terreno e da vegetação. Na Mata Atlântica, por exemplo, essa espécie é considerada “quase extinta” pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Portanto, restam duas ótimas opções: o Cerrado (onde há a maior concentração de indivíduos) e o Pantanal, biomas em que os campos abertos e savanas oferecem uma ótima visibilidade e um ambiente ideal para a sobrevivência desse animal. Além disso, nessas regiões é mais comum a presença de cupinzeiros e formigueiros espalhados pelo solo. Fica a dica para procurar com mais atenção por essas áreas de alimentação e esperar um pouco ao redor delas.
Se está se perguntando, não me esqueci da Caatinga. Apesar desse bioma aparentar ser uma boa alternativa para o avistamento dos bichos (pelo menos na questão de terreno e visibilidade), o problema dele é bem semelhante ao da Mata Atlântica. Lá, o tamanduá-bandeira também está quase extinto, deixando raríssimas as chances de encontrar um indivíduo.
A escolha de lente mais segura continua sendo uma teleobjetiva, que permite fotografar o assunto à distância. Porém, em algumas situações é possível que você consiga se aproximar bem do tamanduá-bandeira, permitindo o uso de grande-angulares também. Esse animal é praticamente cego e surdo, então com um pouco de sorte e paciência de esperar ele vir até você, há chances de capturar ótimos “closes” dele.
As câmeras trap e outros mecanismos de disparo automático voltam a ser alternativas interessantes, ainda mais se posicionados próximos de áreas de alimentação/hidratação ou de rotas conhecidas dos tamanduás.
O tamanduá-bandeira não tem fama de ser um animal muito rápido, portanto utilize velocidades do obturador suficientes para congelar o movimento e permitir uma boa entrada de luz na câmera (algo entre 1/400s e 1/800s deve ser o ideal para a maioria das situações, a depender da iluminação ambiente).
Por ter uma estatura relativamente baixa, é interessante se agachar ou até deitar no chão para fotografar no nível dos olhos do tamanduá. Assim, é mais fácil destacá-lo do plano de fundo e gerar uma intimidade um pouco maior entre o público e a imagem.
Caso decida tentar uma aproximação, não deixe de analisar e respeitar o comportamento do animal durante todo o tempo. Tente perceber se ele continua confortável com sua presença e pare de se aproximar em qualquer sinal de incômodo. Quando os tamanduás se sentem acuados, eles levantam sobre suas duas patas traseiras e abrem os braços, se preparando para atacar com suas grandes garras. Se isso acontecer, significa que você já passou bastante do limite imposto pelo bicho.
Apesar do “coitadinho” sofrer com a ineficiência de alguns dos seus órgãos do sentido (lembrando: audição e visão), o olfato do tamanduá-bandeira acaba compensando por ser extremamente desenvolvido, sendo sua principal referência para identificar e localizar presas e predadores. Portanto, tente evitar ou não exagerar no uso de perfumes, desodorantes e outros aromas fortes. Mesmo assim, temos nosso cheiro natural que também pode ser detectado, então busque se aproximar e permanecer na direção contrária a do vento enquanto fotografa.
Os jurumis são conhecidos por serem animais terrestres, mas não deixam de ser bastante versáteis. Eles são capazes de nadar curtas distâncias em rios e de escalar algumas árvores, seja para encontrar alimento ou se refugiar (habilidade “herdada” dos seus primos arborícolas). Logo, fique atento para também encontrá-los em lugares um pouco inesperados.
O período de maior atividade dos tamanduás-bandeira é normalmente regido pela temperatura. Durante os horários mais quentes, preferem se esconder nas matas mais fechadas ou em buracos rasos no chão, nos quais permanecem deitados e encobertos por sua própria cauda, que auxilia na termorregulação. Assim que a temperatura diminui ao final da tarde, costumam sair para forragear, sendo esse o melhor momento para os avistamentos. Em dias mais frios, é possível observá-los com mais facilidade durante todo o dia.
O tamanduá-bandeira é uma espécie única da nossa fauna, uma presença ilustre de vários biomas brasileiros, muito simpática e extremamente curiosa, por isso está colocada bem no alto da minha lista de favoritas. É uma pena que, por conta das nossas ações, estamos tendo que lutar para mantê-la viva para as próximas gerações poderem conhecê-la. Espero que este artigo possa ajudar você de alguma forma na busca por uma foto desse animal. Obrigado pela leitura e até breve!
Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
no artigo são de responsabilidade exclusiva de seu(s) autor(es).
Nascido em São Paulo (SP), formado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e fotógrafo de vida selvagem desde 2017. Ministrou durante dois anos o curso de Fotografia de Vida Selvagem para Iniciantes através de um projeto de extensão do Ministério da Educação. Tem experiência com pesquisas na área de ornitologia, ecologia e comportamento […]
