Por Dimas Marques
Editor-chefe
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Mais de 600 filhotes de tartarugas-da-Amazônia (Podocnemis expansa) foram apreendidos pela polícia do Amazonas durante uma abordagem a uma embarcação que navegava pelo no rio Solimões, em Coari, município situado a 363 quilômetros de Manaus. A ação ocorreu às 7h de sábado, 24 de abril. O responsável pelos animais, que estavam em caixas de isopor, não foi identificado.
O barco Maria de Lourdes seguia de Carauari com destino a Manaus. No total, foram encontrados 684 filhotes, sendo que 21 estavam mortos. O dono da embarcação afirmou aos policiais desconhecer quem é o responsável pelo carregamento, que foi avaliado em R$ 3,4 milhões. Ele detido, multado em R$ 5 mil por animais, e solto para responder em liberdade pelo transporte ilegal de animais silvestres capturados na natureza e maus-tratos. As tartarugas foram entregues para a Secretaria de Meio Ambiente de Coari.
De acordo com Camila Ferrara, especialista em quelônios da Wildlife Conservation Society (WCS) Brasil, esses filhotes devem ter nascido depois outubro do ano passado e, provavelmente, foram capturados logo após saírem dos ovos. A temporada de nascimentos das tartarugas-da-Amazônia ocorre no segundo semestre. “Com certeza, eles foram criados em cativeiro até agora para serem vendidos”, explicou.
Camila e agentes de fiscalização consultados pelo Fauna News acham que os filhotes estavam sendo levados para serem introduzidos em criadouros comerciais legalizados de animais da espécie. Por serem filhotes, eles ainda não têm tamanho e peso ideais para serem abatidos e consumidos, sendo necessário ainda algum período em cativeiro. Ou seja, animais nascidos na natureza capturados ilegalmente seriam posteriormente vendidos como se tivessem nascidos em criadouros autorizados. No Amazonas, a Polícia Federal tem investigações em andamento sobre o “esquentamento” de tartarugas-da-Amazônia ilegais para consumo da carne pela população.
Diferentemente das tartarugas-marinhas, que põem ovos várias vezes na mesma temporada reprodutiva, os animais dessa espécie só desovam uma vez no ano. Ou seja, uma coleta constante e por longos períodos de ovos e filhotes pode impactar bastante a população da espécie. “Seiscentos filhotes equivalem a cerca de seis ninhos”, afirmou Camila.
Na Lista Nacional Oficial de Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção, a tartaruga-da-Amazônia consta na categoria “quase ameaçada”. Na listagem da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), está como “vulnerável”, ou seja, ameaçada de extinção.