Feira do Cordeiro, Recife (PE): uma face do tráfico de animais no Brasil

Dimas Marques
  • Dimas Marques

    Editor-chefe

    Formado em Jornalismo e Letras, ambos os cursos pela Universidade de São Paulo. Concluiu o curso de pós-graduação lato sensu “Meio Ambiente e Sociedade” na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo com uma monografia sobre o tráfico de fauna no Brasil. É mestre em Ciências pelo Diversitas – Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, onde pesquisou a cobertura do tráfico de animais silvestres por jornais de grande circulação brasileiros. Atua na imprensa desde 1991 e escreve sobre fauna silvestre desde 2001.

    Fauna News
02 de abril de 2014
“Quarenta e seis aves silvestres que estavam sendo comercializadas em um mercado público do bairro do Cordeiro, na Zona Oeste do Recife, foram apreendidas, neste domingo (30), pela Companhia Independente de Policiamento do Meio Ambiente (Cipoma). Entre os animais, havia dois tucanos. Três pessoas foram detidas.

O tráfico de aves no Cordeiro é bastante conhecido
Foto: Júnior Aguiar

A apreensão ocorreu durante fiscalização de rotina no bairro, nesta manhã. Três homens foram flagrados realizando o comércio ilegal de 32 aves. Eles foram detidos e encaminhados para a Central de Flagrantes da Capital, onde assinaram um Termo Circunstanciado de Ocorrência por comércio ilegal de aves e maus tratos. Os suspeitos devem respondem em liberdade.” – texto da matéria “Cipoma apreende 46 aves silvestres em mercado público no Recife”, publicada em 30 de março de 2014 pelo site Olhar Direto (PE)

A feira do Cordeiro é considerada como um dos principais pontos de venda ilegal de animais silvestres da Região Metropolitana do Recife.

Entre agosto de 2010 e abril de 2011, o biólogo Rodrigo Regueira frequentou 10 feiras da Região Metropolitana da capital pernambucana conhecidas pelo tráfico de fauna. Com uma pequena caneta que escondia uma diminuta câmera de vídeo, ele fingiu ser comprador e realizou 28 visitas a esses centros de comércio popular fazendo registros para seu trabalho de conclusão do curso de Ciências Biológicas, da Universidade Federal de Pernambuco.

Dentre as 10 feiras visitadas (Peixinhos, em Olinda; Madalena, Cordeiro, Casa Amarela, e Linha do Tiro, no Recife; Cavaleiro e Prazeres, em Jaboatão dos Guararapes; Paratibe, em Paulista; Abreu e Lima; e Cabo de Santo Agostinho), a do Cordeiro se destacou. Ela herdou boa parte dos traficantes da feira do Madalena, situada no bairro vizinho e que sofreu intensa ação de fiscalização, perdendo força. Situada ao lado do Mercado Público do Cordeiro, no bairro de mesmo nome, ela é uma feira voltada para o comércio de animais e de apetrechos para criação dos bichos (gaiolas, bebedouros, comedouros, rações, sementes), funcionando aos domingos a partir das 5h.

“É a feira com maior número de vendedores de silvestres. Eram mais de 30 em cada visita que fiz. Também tem o maior número total de espécies à venda, 42, e de indivíduos comercializados”, afirma Regueira, que esteve no local três vezes e contabilizou 553 animais sendo traficados.

Nas feiras da Região Metropolitana de Recife, Regueira encontrou 55 espécies de aves, sendo que duas encontram-se ameaçadas de extinção (Tangara fastuosa ou pintor-verdadeiro e Sporagra yarrellii ou pintassilgo), quatro tipos de aves híbridas e uma espécie de quelônio (Geochelone carbonária, o jabuti-piranga). No total, foram registrados 2.130 animais, sendo que 87% das espécies e 99% dos indivíduos eram da ordem passeriforme, os conhecidos passarinhos que atraem pelo canto e plumagem colorida. O biólogo também constatou que 82% dos bichos apresentavam sinais de estresse. Não foi registrado o comércio de fauna silvestre nas feiras da Casa Amarela e do Madalena, o que não quer dizer que não aconteça.

“Projeções baseadas no número observado de indivíduos à venda indicam que até 52 mil animais podem ser comercializados anualmente nas oito feiras. Considerando os valores mínimos, médios e máximos obtidos, projeta-se que o comércio ilegal de animais silvestres movimente, por ano nessas feiras, entre R$ 636.840 e R$ 1.071.638”, afirma o Regueira. E tudo isso apenas na Região Metropolitana de Recife.

Essa realidade não é exclusividade da Região Metropolitana do Recife. É assim em todo o Nordeste e em várias outras regiões do Brasil.

Enquanto o poder público não investir em educação ambiental para desestimular o hábito do brasileiro em criar animais silvestres como bichos de estimação, fiscalização e repressão apenas servirão para pouco atrapalhar o mercado negro de fauna. A legislação é fraca e não mantém ninguém preso por vender silvestres.

– Leia a matéria completa do Ilhar Direto

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Sobre o autor / Dimas Marques

Formado em Jornalismo e Letras, ambos os cursos pela Universidade de São Paulo. Concluiu o curso de pós-graduação lato sensu “Meio Ambiente e Sociedade” na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo com uma monografia sobre o tráfico de fauna no Brasil. É mestre em Ciências pelo Diversitas – Núcleo de Estudos das […]

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