
Por Bibiana Terra
Graduada Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente é mestranda junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF) da mesma universidade
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Ferrovias são ambientalmente mais sustentáveis do que o transporte rodoviário, visto que são menos poluentes, considerando tonelada por quilômetro rodado, e exigem uma menor ocupação do solo, pois tem uma enorme capacidade de carga por trem. Por conta disso, não há dúvidas que seria melhor, no planejamento da expansão da malha viária, sobretudo de logística de transporte de produtos, substituir rodovias por ferrovias. Mesmo com suas inúmeras peculiaridades, ferrovias e rodovias são infraestruturas muito parecidas no tipo de impactos que produzem para a fauna: perda, fragmentação e degradação de habitat e mortalidade direta por colisões.
O que não se sabe, ou se sabe muito pouco, é como varia a intensidade desses impactos entre essas duas infraestruturas, pois existem poucos estudos avaliando como de fato as ferrovias afetam o ambiente. Mas, por que sabemos tão pouco?
No caso das colisões com animais, a falta de interesse nessa área pode ser resultado da expectativa generalizada de que a mortalidade de fauna em ferrovias seja consideravelmente menor do que em rodovias, já que as ferrovias são mais estreitas, possuem veículos mais longos, presumivelmente mais barulhentos e com velocidade e tráfego menores.
Apenas há dois anos foi lançado um livro de Ecologia de Ferrovias, que reuniu as principais informações disponíveis sobre o assunto até aquele momento. A partir da divulgação dele e dos poucos estudos nessa área, podemos concluir que as colisões devem ser o principal impacto direto para a fauna de vertebrados de médio porte.
E não são apenas as colisões que matam os animais na ferrovias. Entre os menores (jabutis, tartarugas e sapos, por exemplos), muitos acabam morrendo de fome ou por desidratação ao ficarem aprisionados entre os trilhos.
Como o transporte de passageiros por trens é quase inexistente no país e o acesso às ferrovias é difícil, acabamos não enxergando a mortalidade presente nos trilhos e sabemos pouco sobre quais e quantos animais morrem nessas infraestruturas. Porém, existem relatos na literatura científica de que muitos indivíduos foram atropelados pela passagem de um único trem. Foi o caso do atropelamento de mais de 250 antílopes em Montana (EUA), em 2011.
Considerando o interesse em expandir a malha ferroviária no país (e no mundo) e os estudos que já têm demonstrado os impactos negativos das ferrovias, está mais do que na hora de também expandirmos o conhecimento sobre esse tipo de infraestrutura no Brasil. Devemos avaliar a dimensão dos impactos causados no ambiente em que as ferrovias estão inseridas para poder pensar em estratégias para redução de danos.
Antes de construirmos novas ferrovias é muito importante incorporarmos as lições aprendidas com as ferrovias já em operação, antecipando os problemas que podem surgir e priorizando estratégias de como evitá-los.