Por Bibiana Terra
Graduada Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente é mestranda junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF) da mesma universidade
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Você já deve ter observado os ambientes ao redor da estrada para tentar avistar algum animal, né? A expectativa para encontrar os mais famosos de algumas regiões é alta enquanto percorremos as rodovias. O tamanduá-bandeira, por exemplo, é uma das espécies bandeira do Cerrado (inclusive, 2018 é o ano do tamanduá, segundo a Sociedade de Zoológicos e Aquários do Brasil). Porém, muitas vezes acabamos encontrando esses espécimes apenas atropelados. A morte por colisão com veículos nas estradas já é bem conhecida entre nós, porém esse não é o único impacto que essas infraestruturas podem impor aos animais.
Apesar de muito relacionado às áreas abertas, o tamanduá-bandeira utiliza áreas florestais para descansar e termorregular. Entre as principais causas de redução populacional dessa espécie estão a perda do habitat e a colisão com veículos. Um estudo recente avaliou qual a importância desses dois impactos para a persistência das populações de tamanduá-bandeira no Brasil.
Segundo os autores, a perda do habitat tem mais impacto na persistência dessa espécie do que as colisões com veículos. Isso porque as regiões contendo rodovias têm sofrido bastante com a retirada da vegetação e sua fragmentação, reduzindo o tamanho dos remanescentes de habitat adequado disponível para os tamanduás-bandeira. Ainda, os autores procuraram identificar regiões de elevado risco à persistência da espécie, sobrepondo áreas com os menores valores de hábitat adequados e com as maiores concentrações de rodovias. Eles identificaram que 32% da distribuição do tamanduá-bandeira corresponde a áreas críticas para a espécie.
Apesar das colisões serem menos impactantes que a perda do habitat para as populações de tamanduás-bandeira, elas também apresentam um risco para essa espécie e precisam ser mitigadas. Vale ressaltar que esse estudo utilizou apenas rodovias pavimentadas e com alto volume de tráfego, portanto, é necessário interpretar esses resultados com cautela. Estradas não pavimentadas também podem representar risco para animais silvestres, mesmo que com baixo fluxo.
Quando avaliamos os impactos causados pelas rodovias, precisamos considerar não apenas a mortalidade direta da fauna. A persistência das populações de animais ao redor das estradas pode estar sofrendo mais de um impacto, como os causados pela degradação e fragmentação do habitat e pelos impactos sonoros. A perda indireta de habitat, ou seja, aquela promovida pela maior acessibilidade de uma região ou dinamização do uso do solo, é um risco adicional e possivelmente mais impactante. Em virtude da dificuldade da minimização desse tipo de impacto, é fundamental que ele seja considerado na hora da decisão da abertura de uma nova estrada ou de sua pavimentação.