
Por Andreas Kindel
Biólogo, professor associado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenador do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias da mesma universidade (NERF-UFRGS)
andreaskindel@faunanews.com.br
Não sei em que medida a observação vale para linhas férreas brasileiras, pois desconheço estudos que tenham evidenciado a morte de tartarugas por aqui. Mas existem publicações em outros países que demonstram a mortalidade por atropelamento pelas composições e também por uma razão menos óbvia: eventualmente as tartarugas conseguem ultrapassar o primeiro trilho e ficam aprisionadas entre os trilhos, morrendo por dessecamento, em virtude das altas temperaturas atingidas pela superfície rochosa que sustenta a linha, como pode ser visto na foto abaixo. Como disse, desconheço estudos brasileiros, mas não tenho razões para acreditar que isso não ocorra em locais em que as ferrovias tangenciam ou cortam áreas úmidas.
Se alguém tem informações para ferrovias brasileiras, por favor entre em contato e compartilhe as evidências!
A questão é: como salvar essas tartarugas? Pois no mês de dezembro, inúmeros meios de comunicação reproduziram a notícia de que uma empresa ferroviária do Japão adotou uma solução inovadora para permitir que as tartarugas escapem dessa armadilha. Ainda que a imagem divulgada não seja exatamente de uma situação de escape bem-sucedido, não tenho dúvidas de que a solução funcione.
Embora aparentemente inspirada na ilustração divulgada por Dorsey e colaboradores no capítulo dedicado aos impactos de ferrovias do Handbook of Road Ecology, obra de setembro de 2015 comentada na minha coluna anterior ("Por que não escrevi sobre isto antes?", de 3 de março de 2016), não importa tanto quem foi o proponente original da solução, mas sim que ela é eficiente. O exemplo também ilustra como, frequentemente, muitas mortes de animais podem ser evitadas com soluções criativas, de baixa complexidade, fácil implementação e de baixo custo.
– Releia "Por que não escrevi sobre isto antes?, publicado no Fauna News em 3 de março de 2016