Por Andreas Kindel
Biólogo, professor associado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenador do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias da mesma universidade (NERF-UFRGS)
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EUREKA! Com essa expressão, ninguém mais ninguém menos do que Richard Forman comemorou a publicação da primeira obra síntese sobre Ecologia de Ferrovias. Como se não bastasse, a obra está disponível para download gratuito. Novidade de primeira categoria e "de grátis"?! É "bão" demais.
Embora o público primário seja o acadêmico e formado por analistas e consultores ambientais ou técnicos dos empreendedores, o público leigo, que tem curiosidade ou preocupação com os potenciais impactos dessas infraestruturas, também é contemplado.
O livro está estruturado em duas partes. A primeira reúne capítulos que revisam a literatura sobre aspectos teóricos e compilam padrões sobre os principais impactos das ferrovias. Já a segunda parte é formada por numerosos capítulos, apresentando estudos de caso de várias regiões do mundo. O capítulo que fecha a parte mais teórica foi escrito por pesquisadores ligados ao Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas e revisa os principais distúrbios (ruídos, poluição e erosão) associados à implantação e à operação de ferrovias e as estratégias para mitigá-los. São impactos que podem ter consequências consideráveis sobre a biodiversidade pois são contínuos, em geral "invisíveis", a não ser em eventos de acidentes com cargas químicas.
Fundamentalmente, o livro evidencia que, embora os conceitos, potenciais impactos e, genericamente, também as estratégias de mitigação são similares aos utilizados ou reconhecidos na Ecologia de Rodovias, há inúmeras lacunas de conhecimento sobre as interações de ferrovias com a biodiversidade e várias evidências de que há importantes diferenças entre os impactos de ferrovias e rodovias. O grande propósito do livro é justamente catalisar uma explosão no interesse tanto do público acadêmico quanto do leigo no estudo das ferrovias, algo que foi observado quando da publicação da obra que consolidou a Ecologia de Rodovias, em 2003, e que teve como seu principal autor justamente Richard Forman.
Não há dúvidas de que ferrovias são melhores que rodovias como meio de transporte de bens e também de pessoas. O que não sabemos ainda exatamente é qual a magnitude dos impactos ambientais, quanto é possível evitar, mitigar ou recuperar esses impactos e quais as melhores formas de fazer isso. Tanto no restante da América do Sul quanto no Brasil, a Ecologia de Ferrovias (na realidade as ferrovias em si) é embrionária. Estou curioso para ver o que acontecerá daqui para frente, tendo este livro como estímulo e alerta para a necessidade de avançarmos no conhecimento e na aplicação das melhores práticas já reconhecidas em outros países.
Em um cenário que projeta expressiva expansão desse setor de transportes, isso é mais do que urgente!