
Por Fernanda Zimmermann Teixeira
Bióloga, mestre e doutora em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É pós-doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e integrante do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF) da UFRGS
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No último domingo (3 de junho), um veado-catingueiro (Mazama gouazoubira) foi atropelado na Rota do Sol, estrada que liga a serra ao litoral no Rio Grande do Sul. Infelizmente, é um acidente que ocorre com certa frequência. Afinal, muitos são os atropelamentos de animais silvestres nas rodovias, entre elas a Rota do Sol, uma estrada que passa por três unidades de conservação.
Porém, dessa vez aconteceu algo inusitado. O motorista não enxergou mais o animal após a colisão e seguiu em frente. Somente 20 quilômetros depois, ao parar, ele descobriu que o animal estava preso dentro do para-choque do carro.
E, para sua surpresa, ao retirarem o animal, descobriram que ele estava vivo! O veado, machucado, foi encaminhado ao Zoo de Gramado, onde está sendo tratado pelos veterinários da instituição.
Por mais surreal que possa parecer, há outros casos parecidos. Em 2015, o Daily Mail noticiou o caso de uma motorista que atropelou um coala no sul da Austrália e ao chegar em casa, 10 quilômetros adiante, descobriu que o animal estava preso no para-choque, e vivo!
Uma outra história impressionante é de um ônibus que atropelou um veado na Pensilvânia. O animal quebrou o vidro e foi parar, muito assustado, dentro do ônibus. Esse caso mostra como também há um risco para os motoristas, que podem se machucar seriamente nesses acidentes.
O fato de alguns animais ficarem vivos depois da colisão com um veículo não significa que está tudo resolvido. Em muitos casos, os animais nunca mais voltam para a natureza em função das lesões que sofrem e acabam vivendo o resto de suas vidas em cativeiro. Isso é indesejável tanto para o animal, que não tem as mesmas condições do que em vida livre, quanto para a população de onde ele saiu, que perdeu um indivíduo.
Foi o que aconteceu com o puma (Puma concolor) atropelado no entorno do Parque Nacional dos Aparados da Serra em 2014. O animal sobreviveu ao atropelamento e foi encontrado vivo, e muito ferido, na beira da estrada. Em função disso, ele teve sua perna amputada e nunca poderá voltar à natureza.
Esses casos emblemáticos nos lembram que precisamos, urgentemente, diminuir o risco de atropelamento de fauna nas estradas. Medidas de mitigação estão sendo implementadas por todo o mundo e já há estudos que mostram que elas funcionam.
Quer saber mais sobre essas medidas? Releia nossos artigos:
– Bota cerca que tá resolvido! – 26 de novembro de 2015
– Trilhos permeáveis… – 17 de março de 2016
– Desvio a 50 metros – 9 de junho de 2016
– Medidas de mitigação funcionam? – 30 de junho de 2016
– De galho em galho, o macaco chega na estrada – 1º de setembro de 2016
– Morcegos me mordam! O que é isso? – 8 de setembro de 2016
– Criatividade quase ilimitada, efetividade quase desconhecida – 5 de janeiro de 2017
E aqui você encontra informações técnicas sobre medidas mitigadoras: http://www.conecte.bio.br/med_opc.html .