
Por Gabriela Schuck de Oliveira
Graduanda em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e bolsista do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF-UFRGS)
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É evidente que nós, humanos, dominamos outras espécies: comemos, manipulamos, domesticamos, matamos, exterminamos. Os animais domésticos têm a vantagem por ganharem a nossa simpatia e assim garantem sua sobrevivência entre nós (mas nem sempre, já que o Brasil tem 30 milhões de animais abandonados.
Já os animais silvestres, muitas vezes, não conhecemos, não vemos com frequência, não sabemos o seu comportamento e, de modo geral, isso gera o medo do desconhecido, resultando em atitudes aversivas, como: matar, capturar ou ignorar. Essa diferença entre domésticos e silvestres está presente até quando o assunto é fauna atropelada.
Algumas notícias mostram o esforço para salvar animais domésticos em situação de risco na estrada, como o cachorro escoltado por 20 minutos para não ser atropelado na BR-116 ou então pessoas arriscando a vida para salvar um cão em rodovia. Em contrapartida, temos animais silvestres sendo atropelados até intencionalmente (já discutido aqui) e uma grande parcela sendo ignorada nas rodovias.
É claro que há casos contrários em ambas situações e muitas pessoas estão na luta para salvar a fauna silvestre, mas no âmbito popular, os pets sempre serão mais valorizados ou então mais notados.
Outro exemplo (que me inspirou a escrever este artigo) é um episódio ocorrido no ano passado quando dois cachorros comunitários foram atropelados dentro do campus da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, um deles vindo a óbito. Houve uma grande repercussão nas redes sociais, gerando várias campanhas para descobrir o(a) autor(a) do atropelamento. Porém, nessa mesma universidade é realizado há 3 anos o monitoramento de fauna atropelada e a estimativa é que morrem em torno de 320 animais silvestres por ano.
Pensamos muito no indivíduo observado e esquecemos (ou não sabemos) que o atropelamento de animais (tanto de domésticos quanto de silvestres) é muito mais frequente do que imaginamos, atingindo números elevados. Evitar a morte de um único animal é ético e atinge o nosso emocional. Mas também devemos pensar naqueles que não enxergamos, que contribuem para o meio ambiente ecologicamente saudável e são fundamentais para garantir o equilíbrio da natureza e, consequentemente, a nossa qualidade de vida.