
Por Fernanda Zimmermann Teixeira
Bióloga, mestre e doutora em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É pós-doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e integrante do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF) da UFRGS
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Dependendo de há quantos anos você nasceu, tenho certeza que se lembra de voltar de uma viagem e ter a dianteira do carro coberta de insetos mortos. Atualmente, muita gente tem observado que o para-brisa tem ficado muito mais limpo ao andar de carro por aí.
Mas o que aconteceu?
Já chamado de apocalipse ecológico ou de Armageddon dos insetos, vários estudos têm apontado o declínio ao redor do mundo de grupos de insetos, desde borboletas a abelhas e besouros. Uma pesquisa publicada ano passado, por exemplo, demonstrou uma redução de 76% na biomassa de insetos de diferentes grupos na Alemanha em comparação ao fim da década de 1980.
E por que devemos nos preocupar com isso?
Embora pequenos e muitas vezes não muito apreciados, insetos são parte fundamental da biodiversidade. Milhares de espécies de aves e outros animais se alimentam diretamente deles e parte da fertilidade do solo e da degradação de matéria orgânica dependem desses organismos. Insetos são responsáveis pela polinização de plantas (inclusive da maioria das plantas das quais nos alimentamos), além de controlar muitas outras espécies que consideramos pestes agrícolas.
As causas desse declínio são variadas, como a mudança no uso do solo, poluição, uso de pesticidas e as mudanças climáticas. E toda a malha de transporte terrestre, com rodovias e ferrovias espalhadas por quase todo o globo, tem uma parcela de culpa. Além do sistema de transporte ser responsável por toneladas e toneladas de poluentes liberados na atmosfera, estudos também têm demonstrado a potencial perda direta de insetos através de colisão com veículos e o potencial efeito de barreira. Uma pesquisa de 2015 estimou a morte de centenas de bilhões de insetos por ano na América do Norte. Um outro estudo, publicado há alguns meses, encontrou uma menor abundância de insetos ao redor de rodovias com maior tráfego. E estradas também podem ser uma barreira para os insetos, como demonstrado por um trabalho que encontrou diferenças na comunidade de abelhas e vespas entre os dois lados de uma rodovia.
Surpreso? Aparentemente, para-brisa limpo não é um bom sinal!