
Por Andreas Kindel
Biólogo, professor associado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenador do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias da mesma universidade (NERF-UFRGS)
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Por interesses como a caça esportiva na Argentina e Uruguai ou para a produção de carne nobre para restaurantes no Rio Grande do Sul, o javali acabou chegando ou foi trazido para terras brasileiras. Para quem conhece o bicho e seu interesse por qualquer tipo de comida e sua capacidade de ter filhotes, não é nenhuma surpresa o fato da espécie, em suas várias formas de apresentação, seja como javali ou javaporco, ter se transformado em uma das grandes dores de cabeça para produtores rurais de várias regiões do pais.
Há vários anos discute-se a melhor forma de lidar com essa espécie, com debates acalorados de defesa ou ataque às diferentes alternativas disponíveis para controlar os riscos associados ao contínuo aumento da abundância e abrangência territorial dessa espécie no país. Aos que imaginavam tratar-se apenas de mais um problema para produtores e moradores de áreas rurais e, por isso, não davam atenção alguma à espécie, cabe o alerta: abram o olho! Se nada for feito, será cada vez mais comum bater de frente com um gigante destes (na forma javaporco facilmente ultrapassam uma centena de quilos) em estradas e rodovias brasileiras.
Na Alemanha, segundo a associação de caçadores nacional, que realiza as estatísticas, somente entre 2012 e 2013 foram 22 mil javalis mortos em acidentes em rodovias, com prejuízos de dezenas de milhões de euros e algumas mortes de motoristas. No Brasil, infelizmente as estatísticas de acidentes com esta espécie não estão disponíveis, mas com indesejável frequência começam a ser noticiados.
Depois de uma invasão como a dos javalis e javaporcos estar instalada, os prejuízos são invariavelmente assumidos pelo poder público e pelas vítimas. O controle dos javalis será difícil e oneroso, mas serve de alerta. As regulações sobre criação e comércio de espécies exóticas, atualmente em discussão, não podem autorizar essas atividades para espécies potencialmente invasoras. Acima de tudo, precisamos encontrar formas de responsabilização dos interessados nessas atividades quando delas resultam introduções e invasões biológicas. O ideal é que as punições sejam impostas com a mesma celeridade que a desejada às autorizações para a sua atividade.