
Por Fernanda Zimmermann Teixeira
Bióloga, mestre e doutora em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É pós-doutoranda no Laboratório de Ecologia da Paisagem da Carleton University (Canadá) e integrante do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF-UFRGS)
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Poucas pessoas já devem ter reparado em um sapo atropelado. Mas isso não quer dizer que esses animais não morram nas estradas. Anfíbios são animais pequenos e dificilmente conseguimos enxergá-los de dentro de um veículo em movimento.
Em um estudo que desenvolvemos na Estrada do Mar, no entorno do Parque Estadual de Itapeva, no nordeste do Rio Grande do Sul, estimamos que morrem em torno de 9 mil anfíbios por quilômetro a cada ano!
Para chegar nesta estimativa, monitoramos a pé os anfíbios atropelados num trecho de 4 km e corrigimos as estimativas de mortalidade considerando aquelas carcaças que nós não enxergamos e aqueles animais que morreram entre um monitoramento e outro.
Claro, nós não esperamos que essa seja a taxa de mortalidade em todas as rodovias. Para que uma estrada tenha uma alta taxa de atropelamentos são necessárias duas coisas: primeiro, é preciso que seja um lugar em que os animais usem bastante, e, segundo, é preciso que haja tráfego de veículos para que os atropelamentos ocorram.
Nesse mesmo estudo mencionado acima, nós investigamos quais fatores estavam relacionados aos atropelamentos de diferentes espécies de anfíbios. Para algumas, havia mais atropelamentos nos períodos em que a temperatura média era mais alta e o fluxo de veículos maior. Porém, para outras espécies, como o sapo-cururu (Rhinella icterica), o fluxo de veículos não influenciava, mas sim a ocorrência de um período de chuvas, pois isso está relacionado à maior atividade desses animais.
Também investigamos em quais locais a chance de ocorrer atropelamentos era maior. Para a rã-crioula (Leptodactylus latrans), por exemplo, a presença de valas na beira da estrada foi o fator mais determinante do local dos atropelamentos. Já os atropelamentos do sapo-cururu ocorriam em maior número onde havia postes de luz na beira da estrada, provavelmente porque esses animais se alimentam dos insetos atraídos pela luz.
Mas para que serve saber tudo isso?
Saber quantos animais morrem atropelados em uma estrada é o primeiro passo para avaliarmos se existe um impacto da estrada nas populações de animais que vivem no entorno. O segundo passo é investigar o quanto essa mortalidade afeta a população como um todo.
Saber quais os fatores que determinam quando e onde esses animais são mais atropelados permite que se faça predições de quando e onde esse impacto será maior, o que permite planejar medidas para evitar ou mitigar esse impacto. As medidas possíveis variam desde o fechamento temporário da estrada (como é feito em alguns locais no período de migração de alguns anfíbios) até a instalação de cercas e passagens de fauna específicas para esses animais.