Por Júlia Beduschi
Bióloga e mestranda na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), trabalhando junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF) da mesma instituição
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Hoje venho contar uma história muito legal. Uma iniciativa colaborativa para conservação do mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus) envolvendo sociedade, universidade e governo que vem acontecendo em São Paulo.
O mico-leão-preto é um primata endêmico da Mata Atlântica do Estado de São Paulo, está categorizado como “em perigo” na lista estadual, nacional e internacional de espécies ameaçadas de extinção e também é considerado uma espécie do Patrimônio Ambiental Paulista. Recentemente, foi descoberta uma nova população desses animais no munício de Guareí (SP) por funcionários da Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Além disso, os técnicos da secretaria também observaram três indivíduos adultos e dois juvenis da espécie mortos atropelados na estrada GRI-253 que corta o habitat da população recém descoberta. As mortes sensibilizaram a bióloga Francini Garcia, que resolveu fazer seu projeto de mestrado profissional, no programa de Pós-Graduação em Conservação da Fauna na Universidade Federal de São Carlos, focando na construção de estruturas de mitigação para a espécie.
Motivada a arrecadar recursos para a instalação das estruturas, conseguiu apoio de várias instituições entre universidades, empresas e governo para a execução de seu projeto. Estão envolvidas a Universidade Federal de São Carlos, a Universidade Estadual Paulista, a Universidade Estadual de Montana (EUA), a Prefeitura Municipal de Guareí e a empresa Grupo Alvorada.
Com o resultado de todo esse esforço de colaboração, este ano foram instaladas duas passagens de fauna aéreas no local com frequentes observações de travessias dos indivíduos identificados pela comunidade local e pelos técnicos do meio ambiente. São duas estruturas com dois tipos de design: uma ponte de corda e uma ponte de madeira. Desde a instalação, as passagens estão sendo monitoradas com armadilhas fotográficas e por meio de monitoramento direto e participativo com a comunidade local. Segundo Francini, o objetivo é “avaliar a efetividade, preferência de uso entre os designs, tempo de adaptação, fator de habituação e comportamento de travessia”.
Para alegria de todos os envolvidos, no dia 25 de junho de 2017, quatro meses após a instalação, foi registrado o primeiro indivíduo de mico-leão-preto utilizando a passagem de madeira. Além do mico, também já foram registradas outras duas espécies utilizando a ponte de madeira: o esquilo Sciurus ingrami e uma espécie de roedor que ainda não foi identificada.
A iniciativa da Francini merece o reconhecimento não só pelo empenho em viabilizar a instalação das estruturas, mas também pelo esforço em avaliar o uso das passagens. Com o resultado desse estudo será possível orientar futuras iniciativas similares ao longo da distribuição dessa espécie e auxiliar na conservação da biodiversidade.