
Por Fernanda Zimmermann Teixeira
Bióloga, mestre e doutora em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É pós-doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais da Universidade Federal de Minas Gerais e integrante do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF) da UFRGS
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De tempos em tempos, aparecem nas redes sociais vídeos de peixes atravessando estradas cobertas de água. Pode parecer uma cena um pouco surreal para algumas pessoas, mas é o que acontece com os salmões no estado de Washington, nos Estados Unidos.
Todo ano, no período de novembro e dezembro, os salmões migram do oceano Pacífico para o mesmo rio em que nasceram para se reproduzirem. Acontece que os rios não correm mais livres por lá e são cruzados por uma rede de rodovias muito densa. Porém, esses animais estão focados em chegar nos locais de reprodução. Então, quando os rios estão cheios e a água passando por cima da estrada, esses peixes atravessam por onde a água também atravessa: por cima da estrada mesmo. É uma travessia arriscada e com alto gasto de energia, pois a água pode não ser suficiente ou eles podem até mesmo ser atropelados.
Assista ao vídeo sobre essa migração inusitada:
A National Geographic também registrou o fenômeno.
Os salmões são os peixes mais famosos por fazerem essas migrações longas, mas outras espécies também migram para se reproduzir. E, mesmo entre as espécies que não fazem longas migrações, os indivíduos precisam fazer deslocamentos diários para se alimentar, se abrigar e se reproduzir. E, para todos esses peixes, a presença de estradas cruzando rios pode ser um problema.
Pode não ser comum encontrar peixes atravessando as estradas por aí ou peixes atropelados, mas as estradas também são uma barreira para esses animais, como já falamos por aqui.
Os rios são cortados por estradas em quase todo o mundo. Nesses cruzamentos, são instalados pontes, bueiros e canos de todos os tamanhos para manter a passagem da água. Em geral, a preocupação das equipes de engenharia é apenas permitir que a água passe deixando a estrada no lugar. Até nisso há falhas, pois muitas vezes a quantidade de água que deve passar não é dimensionada corretamente. Porém, o planejamento de uma estrada deve ir muito além disso e as passagens de água deveriam contemplar a manutenção dos corpos hídricos sem impactos para o ambiente. Para isso, é preciso dimensionar a quantidade de água que deve passar, além da velocidade da água, da presença de sedimentos e da movimentação da fauna.
Para os peixes poderem se movimentar, é importante que a largura e a velocidade da água não se alterem muito nessas passagens e também que não haja diferença de altura entre o corpo d’água e a passagem.
Já tratamos aqui no Fauna News de um mapeamento dos cruzamentos de rios por estradas no Rio Grande do Sul (RS), que mostrou que grande parte das bacias hidrográficas do Estado está potencialmente impactada por rodovias. Não seria muito mais eficiente se as drenagens já fossem planejadas e instaladas incorporando essas preocupações para a manutenção dos ambientes aquáticos e a movimentação dos animais?