Por Larissa Oliveira Gonçalves
Bióloga e mestre em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É doutoranda em Ecologia na mesma universidade, atuando no Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF-UFRGS)
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Os dias começam a ficar mais longos e lá vem o horário de verão! Às vezes adorado por tornar o dia mais produtivo e longo, às vezes odiado por atrapalhar o ritmo circadiano das pessoas. O que importa é que independente do seu gosto, o horário de verão acontece! Todo o ano, de outubro a fevereiro, nós brasileiros, do Sul, Sudeste e Centro-oeste do país, adiantamos os nossos relógios em uma hora!
O horário de verão existe principalmente para economizar energia. Segundo dados do Operador Nacional de Sistema Elétrico (ONS), a medida tem possibilitado uma redução média de 4,5% na demanda por energia no horário de maior consumo e uma economia absoluta de 0,5%, o que equivale, em todo o período do horário de verão, aproximadamente ao consumo mensal de energia da cidade de Brasília. O Brasil economizou R$ 162 milhões durante o horário de verão de 2015/2016.
Além de economizar energia, estudos mostram que o horário de verão pode estar relacionado à redução dos acidentes de trânsito nos horários de pico, pois há maior incidência solar nessas horas durante esse período, o que influencia a visibilidade dos pedestres e motoristas.
Será então que o horário de verão pode influenciar também o atropelamento de animais silvestres?
A resposta é sim. Um estudo publicado em dezembro na revista Biology Letters mostrou que com a adoção do horário de verão em Queensland, na Austrália, o risco de atropelamento de coalas poderia ser reduzido em 8% nos dias de semana e em 11% nos finais de semana se comparado com o período sem horário de verão. Isso pode acontecer pois há uma mudança no horário do fluxo de veículos com relação ao horário disponível de luz. Afinal, os animais não seguem nossos relógios e sim o horário do sol! Os coalas são animais bastante lentos que passam o dia descansando e tornam-se ativos no início da noite. Isso faz com que o período de atividade dos animais acabe coincidindo com o pico de trânsito do fim do dia nos meses em que não é adotado o horário de verão.
Aparentemente, uma estratégia que foi pensada primordialmente para poupar energia pode trazer grandes benefícios para a conservação da natureza. Assim, os autores também salientam que debates sobre a existência do horário de verão e sua implementação devem também levar em consideração as consequências indiretas.
Será que o horário de verão brasileiro interfere na chance de um animal silvestre ser atropelado? Ninguém nunca testou isso no Brasil, mas tendo essa referência da Austrália podemos imaginar que exista sim alguma influência do horário de verão que possa estar beneficiando a fauna.