
Por Bibiana Terra
Graduada Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente trabalha junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF) da mesma universidade
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Há pouco mais de um ano, foi noticiado que o panda-gigante da China saiu da categoria de animais em perigo de extinção, sendo classificado como “espécie vulnerável” pela União Internacional para Conservação da Natureza. A partir de uma pesquisa realizada em 2013, a espécie apresentou um crescimento do tamanho da população, tendo atualmente aproximadamente 1.900 indivíduos adultos. Porém, esse aumento no número populacional pode passar uma informação incompleta.
Utilizando imagens de satélite, um grupo de cientistas mapeou, por 40 anos, as mudanças no hábitat dos pandas-gigantes. O estudo mostrou que, apesar de o número de pandas ter aumentado, a área habitada por esses animais está menor e mais fragmentada do que em 1988, quando a espécie foi classificada como “em perigo de extinção”.
Os autores compararam o hábitat do panda-gigante entre os anos de 1976 e 2013. O hábitat sofreu uma redução de 4,9% de 1976 a 2001, tendo aumentado 0,4% de 2001 a 2013. O tamanho médio da mancha de hábitat remanescentes diminuiu 24% entre 1976 e 2001, sofrendo um leve aumento, de 1,8%, entre 2001 e 2013. Embora as áreas de proteção ambiental para os pandas tenham aumentado desde que ele foi considerado em perigo de extinção, a fragmentação do seu hábitat também aumentou.
Mas o que a recuperação das populações de panda-gigante tem a ver com esta coluna?
Segundo o estudo, a construção de rodovias é o fator que mais contribui para o aumento da fragmentação e para a perda de hábitat do panda-gigante! A densidade de rodovias foi 2,7 vezes maior em 2013 do que em 1976 e a quantidade de hábitat impactados por elas cresceu 6,6 vezes no mesmo período. Isso significa que, embora a população de pandas tenha aumentado de tamanho, o seu hábitat está altamente ameaçado pela expansão de infraestruturas humanas.
Será que os pandas-gigantes da China realmente não estão mais em risco de extinção?
A fragmentação do hábitat e o isolamento da população continuam sendo importantes ameaças para os pandas-gigantes. Atualmente, a população está dividida em 30 grupos em seis regiões. Esses animais evitam as rodovias, ou seja, não tentam atravessá-las a fim de buscar novas áreas e nem mesmo devem se aproximar devido ao barulho. Populações pequenas e isoladas sofrem efeitos que aumentam o risco de extinção da população local, como por exemplo, terem poucos filhotes por período reprodutivo ou apenas filhotes do mesmo sexo (limitando as possibilidades de cruzamentos entre os indivíduos) e o aumento de endocruzamentos (cruzamentos com parentes), que diminui a variabilidade genética e limita a aptidão da população ao ambiente.
Para diminuir o risco de extinção das populações de pandas-gigantes é importante garantir a conectividade do hábitat para que os grupos não fiquem isolados e possam trocar informação genética. Para isso, uma boa estratégia é desenvolver medidas de mitigação nas rodovias para conectar essas populações isoladas, como corredores de hábitat e túneis nas rodovias. Não podemos deixar que todo o esforço já feito para salvar esses animais da extinção tenha sido feito em vão.