
Por Isabel Salgueiro Lermen
Bióloga pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e mestranda na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF)
estradas@faunanews.com.br
Admirar a natureza é o lazer ideal para certas pessoas e elas encontram no turismo ecológico em unidades de conservação a combinação perfeita de proteção e contato que procuram. Algumas delas, entretanto, buscam contatos mais estreitos com os animais, dando comida a eles. Essa atitude pode parecer inofensiva por olhos leigos, mas é potencialmente geradora de alguns problemas à fauna silvestre, como os animais se acostumarem com esse recurso fornecido facilmente ou até se familiarizarem e perderem o medo de humanos.
O turismo é uma atividade permitida em áreas protegidas prevista no Sistema Nacional de Unidade de Conservação (SNUC) e, desde que bem planejado, orientado e monitorado, pode ser um grande aliado na conservação daquela área. Além disso, o aumento do ecoturismo em unidades de conservação gera um crescimento nos investimentos em infraestrutura desses locais, especialmente em estradas.
Mesmo que o atropelamento de fauna em unidades de conservação não seja comparado ao das autoestradas, por exemplo, comportamentos que aumentam o risco de vida de animais silvestres devem ser considerados e mitigados. A instalação de placas e avisos que informem os turistas pode ser uma boa forma de começar.
Um estudo recente relatou que safaris autoguiados no Parque Nacional Kruger, na África do Sul, são potencialmente perigosos à fauna silvestre. Foi observado que aquando o visitante para o carro, uma espécie de tartaruga (Pelusios sinuatus) parecia se aproximar com interesse no veículo. Esse comportamento sinalizou para os autores a possibilidade de os turistas estarem alimentando os animais ao passarem por eles, acarretando assim um possível aumento no número de atropelamento nessas estradas já que os animais não identificariam os humanos como possíveis predadores.
Esse tipo de comportamento não só é incompatível com unidades de conservação, como deve ser levado a sério pelos gestores e pelos turistas que utilizam parques. Reduzir a mortalidade da fauna é um dos principais objetivos de uma área protegida e aqueles que usam essas áreas também são responsáveis por sua integridade. Além disso, alimentar os animais é uma conduta que deve ser evitada tanto dentro quanto fora de unidades de conservação, pois pode gerar alterações no comportamentos da fauna e colocar não só os animais como as pessoas em risco.
Por isso, lembre-se: quando avistar animais, dentro ou fora de uma unidade de conservação, não os alimente. Devemos admirar a beleza da natureza interferindo minimamente nos seus processos.