
Por Andreas Kindel
Biólogo, professor associado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenador do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias da mesma universidade (NERF-UFRGS)
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A expressão me pareceu apropriada para ilustrar a minha surpresa ao ver as imagens acima. Uma estrutura sem pé nem cabeça ou sem início e sem fim ou ainda que liga lugar nenhum a lugar qualquer só poderia ser mais uma das tantas obras inacabadas, quem sabe prevista para alguma Copa do Mundo… Qual não foi a minha surpresa ao descobrir que se trata de uma passagem de fauna proposta para minimizar a mortalidade de morcegos em uma rodovia na França, mais especificamente a A89.
Para começar, é difícil acreditar que morcegos morram atropelados em rodovias. Nós temos pouquíssimos registros de morcegos atropelados em rodovias por nós monitoradas, mas como já descrito na coluna de 16 de junho, isso não quer dizer que não morram. A raridade dos registros pode ser decorrente da dificuldade de detectar os morcegos mortos de um veículo a mais de 40 km por hora ou ainda porque depois de mortos são rapidamente removidos pelo próprio tráfego ou por carniceiros. No entanto, uma recente revisão de pesquisas sobre o tema, informa que na Europa, para algumas espécies em algumas estradas, a mortalidade pode atingir 5% da população local, o que pode significar o declínio dessas populações. A mortalidade acontece porque as espécies utilizam corredores de vegetação como guias de deslocamento, geralmente voando na borda ou pouco acima das copas, mas quando estes corredores são interrompidos por rodovias ou áreas abertas, eles voam pouco acima do solo, expondo-os à colisão com veículos.
A intenção da estranha estrutura é justamente reconstituir um corredor simulando as copas de árvores e elevar o voo dos morcegos ao longo daquela rota.
Para problemas inusitados, soluções inesperadas! Resta saber se funcionam!