
Por Talita Menger Ribeiro
Bióloga pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde é mestranda junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF)
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É fácil imaginar ou lembrar de grandes animais mortos ao longo de rodovias que frequentamos, mas você já parou para pensar nos pequenos? Proponho um desafio. Em sua próxima viagem de carro, se o dia estiver ensolarado, conte com quantas borboletas o seu carro colide. Acho que você vai se impressionar com esse número! Por mais que possam passar desapercebidas aos nossos olhos, as borboletas estão entre os animais atropelados mais comuns.
As borboletas são também conhecidas por realizarem eventos migratórios. Um dos fenômenos de migração mais famoso do planeta é o das borboletas monarca (Danaus plexippus). Únicas, entre os insetos, a realizarem uma jornada tão longa, durante meses elas percorrem do Canadá ao México, escapando do inverno. Porém, durante a migração, elas têm sua sobrevivência ameaçada por algumas atividades humanas, dentre elas o tráfego em rodovias. Um estudo publicado nesse mês por pesquisadores da Finlândia e dos Estados Unidos mostrou que a colisão com veículos é realmente uma ameaça à sobrevivência dessa espécie.
Em uma região do Texas, por onde grande parte dessas borboletas passa, os pesquisadores encontraram uma média de 3,4 monarcas mortas a cada cem metros de rodovia. Eles também fizeram projeções anuais, onde estimaram que de um milhão a 3,6 milhões de monarcas morrem anualmente por colisões com veículos durante a migração de outono. Esse número representa aproximadamente 3% da população que chega ao México. Pode parecer pouco, mas não é, já que a população enfrenta também outras ameaças e recentemente teve um declínio reportado de 80% em relação ao ano anterior.
Sendo assim, medidas que pudessem reduzir esse número de atropelamentos contribuiriam para que a população de monarcas voltasse a crescer. Mas como? Já existem alguns exemplos pelo mundo, como redes direcionadoras posicionadas em pontos estratégicos. Ou redução da velocidade permitida aos veículos e até mesmo trancamento de rodovias em determinados períodos. Mas claro, ainda é preciso conhecer mais sobre o comportamento das monarcas para aprimorar essas estratégias.
E aqui no Brasil?
Bom, essa espécie de monarca não existe no Brasil, nem muitos estudos com atropelamento de borboletas. Entretanto, abrigamos uma grande diversidade de espécies desse grupo, que podem apresentar, inclusive, fluxos migratórios de menor escala. Então, voltemos ao desafio: quantas borboletas colidindo com seu carro você conta em sua próxima viagem.