Por Talita Menger Ribeiro
Bióloga pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde é mestranda junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF)
estradas@faunanews.com.br
No último sábado, 22 de junho, por volta das 20h, atropelei um graxaim (lobinho ou cachorro-do-mato, para os que vivem mais ao norte). Após me tranquilizar do susto, tentei esquecer o episódio. Mas não conseguia tirar a cena da minha cabeça e seguia me perguntando: eu poderia ter evitado?
Essa pergunta não tem uma resposta, mas traz uma reflexão.
Quando viajamos durante a noite, estamos expostos a um risco maior de colidir com animais silvestres. Tanto a nossa visibilidade quanto a de alguns animais ficam limitadas. Além disso, muitos animais têm atividade crepuscular ou noturna, facilitando que os encontremos nesses horários, inclusive nas rodovias. Assim, se de dia já é difícil evitar o atropelamento de u(quando a condição de tráfego permitir)m animal, de noite fica ainda mais complicado.
Mas como poderia ser diferente?
Alguns estudos analisaram a distância de detecção de animais por motoristas durante a noite, ou seja, a que distância eles eram detectados e qual a velocidade necessária para que o motorista parasse o veículo a tempo de impedir a colisão. As velocidades variaram de 40 km/h a 70 km/h, dependendo da espécie, com o uso de farol baixo. O uso de farol alto, por aumentar o campo de visão, antecipou a detecção e possibilitou velocidades maiores, de 50 km/h a 90 km/h. A velocidade mais baixa necessária para evitar uma colisão foi para diabos-da-tasmânia (Sarcophilus harrisii) e a mais alta para alces (Alces alces). Assim, velocidades máximas reduzidas e o uso do farol alto durante a noite (quando a condição de tráfego permitir) já poderiam evitar alguns acidentes.
Mas não seria inviável viajar assim?
Percorrer longas distâncias com uma velocidade muito baixa talvez seja uma tarefa impossível. Mas uma rodovia com limite de 110 km/h poderia diminuir esse limite a noite, sem tornar a viagem lenta. As reduções podem ser também em pontos estratégicos, onde exista uma maior probabilidade de travessia de animais, seja por eles serem abundantes nesses locais ou pelas características da paisagem ao redor. A Estação Ecológica do Taim, no Rio Grande do Sul, por exemplo, tem uma extensão de 16 quilômetros com limites de velocidades entre 30 km/h e 60 km/h. Ainda assim, de dezenas a centenas de atropelamentos ocorrem anualmente. Ou os limites não são respeitados e/ou essas velocidades não são suficientes para evitar as colisões.
Mas se nem assim é possível evitar, o que fazer?
Sempre que possível, viajemos de dia! Essa pode ser uma forma eficiente e complementar (outras formas já foram tratadas aqui) de evitar boa parte das colisões, especialmente com animais crepusculares e noturnos. Durante a noite, não enxergamos muito além da estrada iluminada pelos faróis do carro. Além de a escuridão ser um risco às nossas vidas e às vidas de outros animais que cruzam a estrada, não vemos o que está ao nosso redor, perdendo boa parte da alegria de viajar: a paisagem.