Por Larissa Oliveira Gonçalves
Bióloga, mestre e doutora em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É pesquisadora colaborada do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias da mesma universidade (NERF-UFRGS)
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Na última semana, participei de dois eventos em Medellín, na Colômbia: a Escola de Desenvolvimento Sustentável e o II Congresso Ibero-americano de Biodiversidade e Infraestrutura Viária. Ambos foram realizados pelo Instituto Tecnológico Metropolitano de Medellín entre 25 e 30 de novembro e reuniram pesquisadores, estudantes e profissionais de diferentes áreas e setores. Ao todo, participaram mais de 200 pessoas de 12 países (Brasil, Argentina, Uruguai, México, Equador, Peru, Canadá, Estados Unidos, Costa Rica, Espanha, Portugal e Colômbia).
Mais do que trocas de ideias e experiências, esses eventos mostraram que cada vez mais precisamos trabalhar com múltiplos setores em colaboração. Biólogos não podem trabalhar sozinhos para diminuir os impactos de estradas na fauna nem os engenheiros podem trabalhar sozinhos para construir estradas mais eficientes. A Ecologia de rodovias e ferrovias é uma área de trabalho multidisciplinar e o grupo que organizou os eventos tem muito a nos ensinar sobre colaborações e trocas de experiências entre áreas.
Além de discutirmos muito sobre atropelamento de fauna e todos os impactos causados pelas estradas, também falamos sobre novas tecnologias para a mitigação desses impactos e formas mais sustentáveis de desenvolvermos as estratégias de mitigação. Pouco se pensa sobre o que causamos quando propusemos e construímos novas medidas de mitigação. Quanto de material é usado para construir uma passagem de fauna? De onde vem esse material? Quanto de recursos naturais estamos gastando para que o impacto do atropelamento de fauna seja minimizado?
Essas foram as perguntas instigadas por uma das palestras do congresso ministrada pelo professor Carlos Arango, do Instituto Tecnológico Metropolitano. A estratégia sugerida é começarmos a pensar em estruturas que podem ser feitas com material biodegradável, que não gerem resíduos no futuro. Passarela de fauna para animais arborícolas (como as pontes de corda, por exemplo) estão começando a ser feitas com materiais de origem vegetal e com plástico reciclado. O projeto apresenta utilização de uma espécie de bambu (Guandua angustifolia) que é nativa da Colômbia. Com a utilização da fibra de Guandua é possível produzir um material resistente, mas biodegradável. Genial, não?
Muito ainda precisa ser pesquisado e reinventado para que diferentes formas de criar as medidas de mitigação existam, mas já sabemos que as primeiras soluções mais amigáveis ao meio ambiente existem e já estão sendo utilizadas.
Para que essas novas medidas sustentáveis sejam criadas é necessária muita colaboração entre profissionais de várias áreas. Esse foi um dos aprendizados que trago desses eventos na Colômbia: foi assim com o pessoal do Instituto Tecnológico Metropolitano, que está conseguindo inovar, juntando engenheiros, biólogos, arquitetos e outros profissionais.
Temos muito o que aprender com os nossos vizinhos da América Latina!