
Por Larissa Oliveira Gonçalves
Bióloga e mestre em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É doutoranda em Ecologia na mesma universidade, atuando no Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF-UFRGS)
estradas@faunanews.com.br
“As cercas da rodovia
São para trazer proteção
Mas também trazem a dúvida
De qual é a direção”
(Paródia de autoria de Gabriela Schuck da música Minha Alma de O Rappa)
Cercas podem reduzir as taxas de atropelamentos de animais silvestres quando são adequadamente localizadas e desenhadas. Através da associação do cercamento com estruturas de cruzamento seguras é possível também não isolar as populações animais e manter a permeabilidade da paisagem para que os animais possam cruzar a estrada sem correr o risco de serem atropelados.
Entretanto, toda a cerca tem um início e um fim e, além desses extremos, ela também pode ser interrompida por acessos que são inevitáveis a qualquer estrada. O que fazer com as extremidades de cercas? Como assegurar que animais não vão acabar sendo direcionados para o extremo da cerca e esses pontos virarem zonas de risco de atropelamentos? Como assegurar que os animais que não forem atropelados não entrarão na estrada e ficarão aprisionados entre as cercas?
Essa preocupação levou moradores de uma cidade no Canadá a fazerem um protesto bem humorado com ursos de pelúcia para chamar a atenção sobre o fim das cercas, após avistarem um urso marrom atravessando a estrada naquele trecho. Esse episódio foi documentado por Marcel Huijser no seu blog sobre Ecologia de Estradas. Recomendo fortemente uma visita frequente à sua página. Suas fotos são sensacionais!
Um artigo recém-publicado que avaliou a efetividade de cercamento para répteis nos dá alguns indicativos sobre o assunto. A primeira lição importante é que o cercamento parcial não se mostrou efetivo para reduzir a interação dos animais com a estrada se comparado a secções da rodovia sem cercamento. A segunda lição importante é a necessidade de o fim da cerca ter uma curvatura para redirecionar os animais para o local de onde vieram. Os autores concluem que cercas contínuas são a chave para o sucesso da mitigação e que é essencial a sua manutenção permanente.
Existem algumas estratégias para diminuir o risco das extremidades de cercas se tornarem zonas críticas de atropelamento ou permitirem que os animais entrem na estrada e fiquem presos entre as cercas. Podem ser desde mata-burros simples que causam o estranhamento do animal ao pisar naquele substrato até superfícies eletrizadas que inibem o animal no local. Como todas as medidas, essas estratégias precisam ser testadas e desenhadas para cada objetivo proposto e para cada espécie-alvo a fim de garantir a sua efetividade. Cercas muito curtas podem não ser efetivas e cercas com muitas interrupções precisam de manutenção mais frequente quando o assunto é redução dos riscos de atropelamento.