Por Bibiana Terra
Graduada Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente é mestranda junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF) da mesma universidade
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Na maioria das vezes, pensamos nas passagens de fauna com cercas direcionadoras como a forma que temos para evitar a mortalidade de animais nas estradas. De fato, esta é uma das opções de mitigação, mas não é a única (inclusive já falamos de outras opções em artigos de 7 de fevereiro de 2019 e de 30 de maio de 2019). Poderíamos tentar evitar as colisões entre carros e animais com a modificação do nosso comportamento ao volante e não esperando que o animal modifique o dele, como, por exemplo, fugindo quando avistar um veículo. Reduzir a velocidade de veículo é uma opção para evitar essas colisões, já que, muitas vezes, a velocidade praticada é maior do que a recomendada para as estradas.
Uma alternativa muito peculiar inventada por dois artistas na Dinamarca em 1995, que resulta na diminuição de velocidade, é uma estrada que canta (Asphaltophone, em inglês). Em alguns trechos curtos, o asfalto possui ranhuras que emitem vibrações sonoras em forma de música decorrentes do atritos dos pneus quando passam por cima delas. O mais interessante disso é que, se o carro estiver na velocidade correta da via, a emissão do som vai lembrar uma melodia, caso contrário vai incomodar os ouvidos do motorista estimulando-o a dirigir na velocidade certa. Essas estradas são bastante conhecidas no Japão – existem uns 40 trechos cantantes que são procurados como atrações turísticas.
Pode ser que esse tipo de emissão sonora da estrada faça com que o animal perceba a presença do veículo e fuja, evitando o atropelamento, ou que os deixe ainda mais assustados e sem reação, aumentando as colisões. Além disso, como é mais um atributo de poluição sonora, pode afetar negativamente alguns animais como aves e anfíbios que se comunicam através da vocalização.
Ainda não existe nenhum estudo avaliando se essa medida é efetiva em evitar atropelamentos de fauna nas estradas ou se causa impactos sonoros negativos nas populações animais. Porém, caso comprovada a efetividade, essa pode ser uma medida mitigadora economicamente interessante, visto que pode ser um atrativo turístico, com baixo custo de implementação e com grande potencial de fazer com que os motoristas respeitem os limites de velocidade – principalmente para trechos com alto número de atropelamentos.