
Por Larissa Oliveira Gonçalves
Bióloga e mestre em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É doutoranda em Ecologia na mesma universidade, atuando no Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF-UFRGS)
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A evolução é a mudança de características de uma geração para outra. Essa mudança pode ser induzida por alguma pressão, que faz com que ou os organismos mudem e se adaptem ou não consigam sobreviver. Muito já falamos sobre os impactos causados pelas estradas e suas consequências para as populações de animais silvestres. Será que os efeitos das estradas podem ir além de mudar o comportamento dos animais e causar mudanças evolutivas nesses organismos que são afetados por elas?
Esse é um debate que foi trazido por um artigo recém publicado na revista Frontiers in Ecology and Environment. O artigo deixa claro que a área de Ecologia de Rodovias ainda pouco avançou nessa temática, mas que as perspectivas evolutivas podem transformar a forma como entendemos as respostas dos organismos às mudanças ambientais, no caso aqui, as mudanças causadas pelas estradas.
Num estudo de 1972, citado no artigo anterior, foi demonstrado que populações de plantas (Marchantia polymorpha) mais próximas às estradas tinham maior tolerância a metais pesados e outros contaminantes do que populações mais distantes. As populações adjacentes às estradas podem ter evoluído para uma melhor tolerância a esses componentes mais frequentemente encontrados próximos às estradas. Adaptações locais podem diminuir a chance de extinções locais.
Outro trabalho muito interessante encontrou evidências de respostas evolutivas de andorinhas (Petrochelidon pyrrhonota) relacionadas à seleção induzida pela mortalidade em estradas. Depois de 30 anos monitorando uma estrada, os autores encontraram que o número de andorinhas atropeladas diminuiu, entretanto eles notaram que as andorinhas que continuavam morrendo tinham asas maiores quando comparadas ao restante da população sobrevivente, de asas menores. Isso sugere que ocorreu uma resposta evolutiva aos efeitos da rodovia, andorinhas com asas mais curtas têm mais chance de desviar dos carros e fazer manobras mais rápidas e, assim, conseguem sobreviver.
Os efeitos das estradas são as próprias forças que podem impulsionar a mudança evolutiva. Diversas e numerosas respostas evolutivas podem estar surgindo da interação estrada-organismo. Compreender essas forças pode ser importante para aumentarmos a capacidade de entender a forma como os organismos respondem e as estratégias necessárias para mitigar os efeitos das estradas.