
Por Rubem Dornas
Biólogo, especialista em Geoprocessamento e mestrando em Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais na Universidade Federal de Minas Gerais. Integra o Transportation Research and Environmental Modelling Lab (TREM-UFMG) e o Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (NERF-UFRGS)
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Há mais de 20 anos, Richard Forman, o pai da Ecologia de Estradas, escrevia um artigo no qual ele sugeria que estradas provavelmente já haviam ultrapassado a caça como o maior fator de mortalidade direta de fauna. Se pensarmos em causas indiretas, estradas podem ser ainda mais nocivas, uma vez que a própria ação da caça é facilitada pela presença de estradas. De qualquer maneira, sabemos que ambas, estradas e caça, são fonte significativa de estresse à vida silvestre.
Uma publicação recente de pesquisadores suecos comparou a taxa de cortisol no sangue de algumas espécies de ungulados (alces, veados e porcos selvagens, por exemplo) que sofreram diversos tipos de situações potencialmente traumáticas. O cortisol é o chamado “hormônio do estresse” e, assim, os autores estavam interessados em saber em quais condições os animais sofreram maior estresse. Dentre essas circunstâncias traumáticas estavam as mortes por colisões com veículos, por emaranhamento em cercas e por alguns tipos de caça, tanto passivas quanto ativas.
Os resultados das pesquisas apontaram que colisões e emaranhamento em cercas implicam em mais sofrimento animal do que lesões ligadas à caça. Os pesquisadores sugerem que isso pode estar relacionado ao maior grau de dor experimentado em atropelamentos, além do contato geralmente próximo aos humanos após o acidente.
O estudo nos faz refletir que o bem-estar animal é mais uma variável a ser considerada em favor da implantação medidas de mitigação de atropelamentos em estradas. Além disso, as medidas mitigadoras são comumente acompanhadas por cercas, que também devem ser bem planejadas para evitar que os animais fiquem emaranhados ou aprisionados (já falamos disso aqui). Com o reconhecimento da primazia em termos de mortalidade e sofrimento, aumenta a responsabilidade de concessionárias, departamentos de estradas e órgãos ambientais em tornar os empreendimentos viários cada vez mais adequados para a convivência com a fauna.
E agora, você ainda acha que é só você quem fica estressado no trânsito?