
Por Gabriela Schuck de Oliveira
Graduanda em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e bolsista do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF-UFRGS)
estradas@faunanews.com.br
Será que precisamos atingir as pessoas emocionalmente para chamar atenção para um assunto ignorado? Alguns meses atrás, uma campanha anônima movimentou as redes sociais nos Estados Unidos: animais mortos por atropelamento em rodovias tiveram balões com frases apelativas amarradas a seus corpos ou cadáveres vítimas desse tipo de acidentes eram colocados em diferentes cenários, provocando um humor mórbido. As fotos se espalharam pela internet e a campanha obteve diversas reações.
Independentemente da opinião de cada um, todos comentaram e refletiram sobre a situação que ganhara visibilidade (o ditado mais uma vez se aplica: fale bem ou fale mal, mas fale de mim). Não foram os primeiros e nem os únicos animais atropelados naquela rodovia, mas provavelmente pode ter sido a primeira vez que foram notados pelos usuários. Podemos reparar essa falta de percepção nos próprios noticiários: recentemente o jornal Correio do Estado (MS), noticiou um atropelamento de onça-pintada, no qual cita ter sido a primeira vez que alguém atropelou um felino dessa natureza.
Agora me pergunto, será que foi a primeira vez que foi noticiado? Ou então a primeira vez que chegou na internet e, por isso, chamou a atenção da imprensa? Afinal, antes mesmo de a notícia ser lançada, várias fotos da onça atropelada já estavam circulando nas redes sociais, gerando comoção nas pessoas.
Muitas vezes, as carcaças de animais nas estradas são percebidas como parte da paisagem ou então são consideradas como sujeira na pista. A visualização rotineira acaba gerando uma aceitação da situação. Apelar para o emocional pode ser controverso, mas tem efeito imediato. Um exemplo é a redução de acidentes de trânsito na Espanha após o uso de campanhas radicais, utilizando mensagens severas para o usuário.
Sair fora do tradicional pode trazer resultados positivos para aquilo que se quer alertar. Novidades chamam atenção e o tradicional cai na rotina do cotidiano. É assim como as carcaças que sempre estão nas rodovias, mas, no momento em que elas estão em uma situação diferente da rotineira, os usuários começaram a percebê-las. Quanto mais atenção temos para a mortalidade nas estradas, mais os usuários terão cuidado ao transitar com o seu veículo, sempre respeitando as normas e a sinalização de trânsito. Quem sabe não adotamos a campanha feita nos Estados Unidos e experimentamos a reação dos brasileiros?