
Por Andreas Kindel
Biólogo, professor associado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenador do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias da mesma universidade (NERF-UFRGS)
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"Estudantes do ensino fundamental (do 6º ao 9º ano) da Escola Municipal Coronel Durival de Britto e Silva, em Curitiba, desenvolveram uma pesquisa sobre a interação humana e animal para o Torneio de Robótica First Lego League (FLL), criado para despertar o interesse dos alunos em temas como ciência e tecnologia dentro do ambiente escolar. O tema do torneio deste ano é Animal Aliados. O projeto escolhido para a competição foi o atropelamento de animais silvestres nas rodovias do Paraná e a solução desenvolvida é a implantação de câmeras que identificam a presença de animais na pista, emitindo um aviso luminoso aos motoristas, que seriam obrigados a reduzir a velocidade".
O texto acima é parte de uma notícia veiculada há pouco mais de duas semanas pela Agência de Notícias do Paraná e logo me impactou. Poderia escrever sobre inúmeras reflexões geradas por este pequeno trecho, passando pelos contextos nos quais a tecnologia citada pode ser efetiva (sim, ela tem importantes limitações) ou em que medida devemos depositar as expectativas em soluções tecnológicas e/ou mudanças de atitude ou ainda a surpresa em perceber que jovens (receio magoar alguém se chamá-los de crianças) de 9 a 16 anos são capazes de feitos como esse. Porém, a primeira coisa que me veio à mente foi: eles sabem que podem fazer diferente! Eles sabem que podem fazer a diferença. Mas quem lhes deu essa oportunidade?
A inércia ou a indiferença das pessoas (nesse caso estudantes) em relação ao conhecimento às vezes depende apenas da forma como os conteúdos e os desafios são expostos. Os danos da humanidade ocasionados pelas rodovias e pelo tráfico à fauna, temas focais do Fauna News, precisam ser apresentados e discutidos na escola. Mas, se forem tratados como usualmente qualquer tema da biodiversidade é tratado, de forma descontextualizada, passiva e enciclopédica, com a única expectativa de resultar em boas notas em uma prova, estes conhecimentos não produzirão nenhum efeito para a vida, seja do estudante ou da fauna.
O que eu valorizei na notícia não foi o fato de esta destacar um desafio que envolveu o desenvolvimento de uma abordagem tecnológica, mas sim o fato dos alunos terem sido desafiados a encontrarem uma solução para um problema real. A busca por soluções exige reflexões mais profundas sobre as razões e dimensão dos problemas. É uma forma mais criativa de promover o conhecimento, a inovação e dar alguma chance para a sabedoria, ou seja, a mudança de atitudes a partir da apropriação do conhecimento. Isso pode ser feito em qualquer contexto, com inúmeras abordagens, não necessariamente a exemplificada na notícia.
O que é mais precioso na notícia? O valor de um bom professor que ousa!
Eles precisam saber!!!