
Por Andreas Kindel
Biólogo, professor associado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenador do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias da mesma universidade (NERF-UFRGS)
estradas@faunanews.com.br
Não sei o que esperar de 2019, mas tem algo de interessante para comemorar em 2018. Já temos pelo menos três ecodutos confirmados no Brasil!
Ecodutos são viadutos vegetados implantados para promover a contiguidade estrutural com a vegetação das margens das vias e assim possibilitar a passagem de fauna (e flora?!) de um lado para o outro. O primeiro foi implantado em uma ferrovia no ramal da Estrada de Ferro Carajás (PA), e agora já há ecodutos em implantação ou planejados na rodovia dos Tamoios (SP-99) e na BR-101, na região da Reserva Biológica de Poço das Antas (RJ).
Olhando para essas estruturas, o primeiro pensamento que vem à mente é: isso deve ter custado uma tonelada de dinheiro, é muito caro! Sim, com certeza, se a comparação é feita com outros modelos de passagens de fauna. Mas se a referência for o custo da própria estrada ou o conhecido superfaturamento histórico das obras, esse valor se torna irrisório (uma consulta ao portal do TCU tem notícia para todos os gostos).
Mas para que instalar essas passagens?
Essa é uma ótima pergunta que, obrigatoriamente, precisa ser respondida pelo monitoramento. O monitoramento tem um custo irrisório, se a referência for a própria obra do ecoduto. Mas, infelizmente, costuma ser mal dimensionado do ponto de vista de alvos a serem monitorados, das técnicas e da duração do monitoramento, justamente por causa da desculpa do alto custo.
Ok, mas para que servem os ecodutos afinal?
Cada projeto deve ter as suas justificativas explicitadas e isso determinará o que deve ser avaliado para saber se os objetivos foram atingidos. Os ecodutos podem ser construídos tanto para reduzir a mortalidade da fauna por colisões com veículos como para reduzir o efeito barreira das estradas, ou ainda para promover as duas coisas. Cada um destes três cenários exigirá um programa específico de monitoramento.
Em qualquer dos cenários, os programas de monitoramento deveriam comparar a redução da mortalidade ou a recuperação da permeabilidade observada nos segmentos de estrada com ecodutos com a observada em segmentos sem medidas mitigadoras e em segmentos com outros tipos de medidas. Isso deve ser feito pelo menos para os alvos (espécies ou grupos de espécies) para os quais os ecodutos foram prioritariamente planejados. Somente com esse tipo de abordagem de monitoramento se pode evidenciar se os ecodutos foram efetivos, ou seja, se funcionaram.
Além disso, esse monitoramento também permitirá informar os tomadores de decisão se os ecodutos são a medida mais eficiente em comparação a outras medidas possíveis, ou seja, se tem melhor relação custo-benefício para os fins propostos.
No caso dos ecodutos, 2018 é um ano a ser comemorado. Mas o desafio não terminou. Precisamos saber se todos passarão!!!!
Um baita 2019 para todos, de muito trabalho e resistência ambiental! A fauna brasileira agradecerá…