
Por Júlia Beduschi
Bióloga e mestranda na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), trabalhando junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF) da mesma instituição
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Os ecodutos são passarelas aéreas vegetadas que ligam fragmentos da paisagem cortados por uma rodovia ou ferrovia. São estruturas de mitigação de grande dimensão e têm por finalidade fazer com que o animal atravesse o empreendimento com o mínimo de percepção de risco, como se fosse a continuação da paisagem, mantendo a conectividade.
Essas estruturas possuem vantagens estruturais em relação as outras medidas de mitigação, tanto na abrangência de animais beneficiados quanto na aceitação dos animais em atravessar a estrutura. Passagens de fauna subterrâneas, por exemplo, são pensadas apenas para animais cursoriais (predadores ou herbívoros de médio à grande porte em sua maioria) e dependendo da dimensão da estrutura restringem sua utilização apenas para animais de pequeno porte, ou ainda, quando escuras no seu interior podem causar estranhamento aos animais, inibindo a travessia. Da mesma forma seletiva, pontes aéreas são desenhadas para utilização de animais arborícolas e, dependendo da distância entre as árvores conectadas e da forma da ponte (corda, tronco de árvore, aço, etc.), alguns animais podem ficar receosos em se aventurar na travessia. As estruturas dos ecodutos por sua vez são desenhadas para eliminar essas limitações de tamanho e de evitamento à estrutura, pois são uma extensão do ambiente que estão inseridos.
Inspirados nos ecodutos presentes em alguns países da Europa e da América do Norte, foram construídos os primeiros dois ecodutos brasileiros. Estão localizados no município de Canaã dos Carajás no sudeste do Pará, no ramal ferroviário S11D. O ramal é uma obra da empresa de mineração Vale e foi construído com o objetivo de escoar a produção de minério de ferro da mina do S11D até a estrada de ferro Carajás. O ramal possui 101 quilômetros de extensão, sendo que, desses, três quilômetros passam pela Floresta Nacional de Carajás (Flonaca). Os ecodutos que têm por objetivo a redução dos atropelamentos de fauna na ferrovia foram feitos juntamente com a construção da ferrovia e suas localizações foram decididas com os técnicos do meio ambiente da Vale e do Ibama, como afirma o líder do Meio Ambiente da Vale, o engenheiro ambiental Cleber Moreira de Almeida.
Além dos dois ecodutos, foram implementadas 32 estruturas de mitigação de atropelamentos de animais, incluindo passagens de fauna subterrâneas e passagens aéreas para primatas. Segundo Cleber, todas as estruturas estão sendo monitoradas com armadilhas fotográficas desde 2016, trabalho que continuará a ser feito quando a ferrovia entrar em operação. Agora esperamos ansiosamente os resultados do monitoramento e a avaliação a longo prazo do uso e da efetividade, tanto dos ecodutos quanto das demais medidas de mitigação.