
Por Larissa Oliveira Gonçalves
Bióloga e mestre em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É doutoranda em Ecologia na mesma universidade, trabalhando junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF-UFRGS)
estradas@faunanews.com.br
Pegando o embalo da coluna do Andreas Kindel na semana passada e o fim do I Congresso Iberoamericano de Biodiversidade e Infraestrutura Viária e do IV Congresso Brasileiro de Ecologia de Rodovias, pensei em retomar um assunto que já tratei aqui, mas que voltou à tona no congresso: o efeito das estradas nos ambientes aquáticos.
Pensei nisso, principalmente, por dois motivos: de 80 trabalhos aprovados para apresentação no congresso, apenas três tinham enfoque no ambiente aquático, e porque um desses três foi escolhido o melhor o trabalho do congresso.
O trabalho intitulado Pressão ambiental de estradas sobre cursos d’água no sul do Brasil, da Alice Flores, aluna de mestrado do Programa de Pós-graduação em Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e integrante do Laboratório de Ecologia de Paisagem, mostrou a pressão de estradas sobre riachos no Rio Grande do Sul. Usando alguns indicadores de pressão como a densidade de estradas e de cruzamentos, o trabalho indicou, por exemplo, que uma porcentagem muito grande de bacias do RS está potencialmente impactada por estradas.
Além disso, durante a apresentação, a Alice citou um artigo que achei bastante interessante e gostaria de compartilhar aqui. O artigo publicado em 2015 pela revista Biological Conservation avalia o efeito do ruído do tráfego sobre a comunicação de uma espécie de peixe nos Estados Unidos. Os autores mostram que como esses peixes se comunicam a curtas distâncias, o barulho do tráfego de veículos pode mascarar o sinal acústico da espécie, alterando a comunidade e, consequentemente, afetando a reprodução desses animais.
Esse artigo é apenas um exemplo de vários dos efeitos que as rodovias podem causar na fauna aquática. Especialmente no Brasil, o impacto de estradas sobre organismos aquáticos é muito negligenciado e o fato de ainda darmos pouca atenção para esse tema é bastante preocupante.
Precisamos mudar isso!