
Por Andreas Kindel
Biólogo, professor associado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenador do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias da mesma universidade (NERF-UFRGS)
Novo e-mail: estradas@faunanews.com.br
Dezenas de milhões de aves morrem anualmente nas estradas dos Estados Unidos e da Europa, regiões nas quais existem algumas estimativas. Ainda que para o Brasil essas estimativas não estejam disponíveis, não tenho dúvida que as mortes também ultrapassam a contagem de dezenas de milhões. Portanto, seja por razões éticas/legais, ecológicas ou econômicas, evitar as colisões, especialmente nas áreas nas quais elas se concentram, é um desafio e tanto.
Para aquelas aves que cruzam as rodovias voando, desviar a sua rota de deslocamento parece ser a solução mais lógica. Obviamente colocar placas informativas como as sugeridas pelo título não fará diferença alguma. Mas uma possível solução não está longe dessa lógica. Entre as alternativas já pensadas para desviar as aves está a instalação de barreiras de estacas como as ilustradas na imagem acima. Contudo, o sucesso dessa estratégia jamais havia sido avaliada até o estudo publicado em julho de 2015 no volume 83 da revista Ecological Engineering por pesquisadores espanhóis.
Em um elegante experimento, os pesquisadores avaliaram a resposta comportamental de três grupos de aves muito frequentemente mortas em rodovias (aves aquáticas, carniceiros e rapinantes diurnos) quando sua rota de deslocamento foi interceptada por uma barreira de estacas. Quem quiser saber dos detalhes vai ter de ler o artigo…
Embora os grupos de aves tenham diferido nas respostas às barreiras, os resultados são bastante promissores e o estudo oferece dicas interessantes para reduzir a mortalidade nessas aves. No cenário com o desenho amostral mais interessante, a barreira que interceptou a rota de aves aquáticas entre locais de forrageio e pernoite foi evitada por 94% das aves. No caso dos rapinantes, os indivíduos só deixaram de cruzar pela barreira quando foram fixadas bandeirolas coloridas nas estacas. Já no cenário envolvendo uma espécie de carniceiro, como o experimento envolveu a atração com iscas, ainda que alguns indivíduos tenham evitado cruzar as barreiras, quase 40% não o fizeram, em uma clara indicação de que a efetividade dessa estratégia é menos eficiente quando há recursos alimentares envolvidos.
Estudos como esse demonstram que é possível ter esperança também na redução da mortalidade de aves. Está mais do que na hora de os programas de monitoramento, exigidos nos licenciamentos das nossas rodovias, adotarem abordagens experimentais para testar e adaptar as inúmeras alternativas de mitigação já pensadas, mas até hoje não suficientemente avaliadas.